domingo, 16 de dezembro de 2012

Uma prenda ideal


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 11 de Dezembro de 2012


Apesar da crise, nesta altura do ano todos procuramos encontrar formas de dar prendas àqueles que são importantes para nós. Todas as prendas têm uma mensagem associada – seja ela de amor, carinho, ou estima – e, mais frequentemente do que se julga, essa mensagem é tanto mais eloquente quanto maior o empenho que quem oferece colocou na sua escolha.

Questões económicas à parte – o que, nos dias de hoje, é bastante difícil para a esmagadora maioria das pessoas, diga-se de passagem – porque não oferecer prendas mais tecnológicas? Num mundo caracterizado por uma crescente dependência das tecnologias da informação e comunicação (TIC), é certo que muitas prendas desse tipo serão excelentes e fortemente apreciadas por quem as recebe.

Não será surpreendente o facto de este tipo de ofertas ser mais do agrado das camadas mais jovens da população, pois é próprio da natureza humana que nessas faixas etárias as pessoas sejam, em regra, mais atreitas às descobertas, aos desafios e a tudo o que represente novidade. Essa é uma característica fundamental para o crescimento, para a superação de obstáculos e, portanto, para a maturação.

Por outro lado, também não é surpreendente que sejam essas as prendas mais rapidamente esquecidas. Um dos fatores que para isso contribui é, naturalmente, a obsolescência desses equipamentos, ditada pelo constante avanço tecnológico e o consequente aparecimento de equipamentos com melhores características e funcionalidade. Mas o fator principal é o de que a promessa de desafio intelectualmente interessante rapidamente se esvai ao fim de algumas utilizações. Em regra, trata-se de equipamentos cujo potencial lúdico ou cultural foi fortemente sobrevalorizado, nos quais a forma se sobrepôs claramente ao conteúdo no ato da escolha.

Quantos desses equipamentos resistem ao primeiro ano? Quantos são guardados, como recordações preciosas de momentos importantes das nossas vidas? Certamente, uma percentagem ínfima. E quantos brinquedos ou presentes menos tecnológicos são conservados ao longo dos anos, décadas e, até, vidas? Incontáveis.

Destes, muitos são livros, de todos os tipos, formas, tamanhos, idiomas e épocas. É que os livros têm um ritmo compatível com a vida, transportam-nos para outros mundos sem sairmos deste, encerram ideias, sentimentos e emoções que perduram no tempo e podem, até, ser intemporais.

E, para além de tudo o resto, os livros têm uma bateria que nunca se gasta, não precisam de atualizações de software, não têm ‘crashes’, arrancam instantaneamente, são imunes a vírus, e as suas páginas estão sempre disponíveis.

Por isso,  agora que procura uma prenda ideal, uma prenda que cause impacto, que seja lembrada, que perdure, porque não um livro? Há-os para todas as idades, gostos e preços. 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Exclusão digital


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 4 de Dezembro de 2012


Tal como o analfabetismo priva as pessoas de entenderem muito do mundo em que vivem, a exclusão digital constitui, nos dias de hoje, um sério obstáculo ao acesso à informação, à cultura e ao desenvolvimento de indivíduos e sociedades.

As tecnologias da informação e comunicação (TIC) são indispensáveis para a sociedade atual, suportando todos os ramos de atividade, possibilitando todo o tipo de serviços – dos mais tradicionais aos mais inovadores – e criando condições para o fomento da atividade económica a nível global.

Por estes motivos, muito se tem debatido na última década a chamada infoexclusão, e inúmeras iniciativas têm sido levadas a cabo no sentido de a combater. Familiarizar os cidadãos com as TIC, instruí-los para que possam tirar melhor partido delas, incentivar a sua utilização, é algo de importância estratégica.

Não devemos, no entanto, exagerar. Longe vão os tempos em que tinha que se saber como funcionavam os computadores para utilizá-los. Hoje todos podemos, com alguma prática, tirar partido de um incontável número de ferramentas informáticas e de todo o tipo de dispositivos digitais. De facto, a tendência atual das tecnologias é a de se tornarem cada vez mais intuitivas, cada vez mais “conscientes” dos utilizadores, das suas preferências e dos contextos em que são utilizadas. Na realidade, pode dizer-se que uma tecnologia é tanto melhor quanto menos se nota.

É certo que, por muito amigáveis que venham a ser as TIC, haverá sempre alguma percentagem de infoexcluídos, percentagem essa que dependerá de muitos fatores, um dos quais será o grau de resistência à “infoinclusão”. Algumas pessoas têm fobia à utilização das TIC, outras têm simplesmente receio ou insegurança. Muitos outros motivos podem existir, mas o que é certo é que para certas pessoas a “infoinclusão” seria uma violência e só traria desvantagens. A propósito desses casos devemos lembrar-nos que a inclusão digital não é um objetivo em si e que o objetivo é o bem estar das pessoas.  

Mas o pior lado da infoexclusão é o de dentro. Refiro-me aos que, sendo digitalmente literatos e, até, proficientes, se vão excluindo – quase sem se darem conta – do mundo real e se submergem irremediavelmente numa qualquer realidade virtual.

Esses veem o mundo através das tecnologias, interagem com outros apenas de forma remota, reduzem a vida a uma incessante interação homem-máquina. Esquecem-se de ver as coisas pelos próprios olhos, ignoram os que estão ao seu redor, deixam-se afogar por um devastador tsunami de dados. São essas as verdadeiras e mais dramáticas vítimas da exclusão que, essa sim, é absoluta e totalmente digital.

Talvez não fosse, assim, má ideia preocuparmo-nos mais com esses do que com os poucos que não querem utilizar as TIC. É que muitos deles pertencem às camadas mais jovens e, por isso, deles dependerá o futuro.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Dietas loucas


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 27 de Novembro de 2012


Em certas sociedades – e, infelizmente, a nossa não é exceção – o Estado sempre foi um bom negócio. Quando é ineficiente, adquire bens e serviços para além do que seria necessário, sobre-dimensiona recursos e soluções, controla mal os gastos, engorda. Ciclicamente, quando atacado pela febre do emagrecimento, procura desfazer-se das soluções que tanto dinheiro lhe custaram e passa a recorrer a entidades externas para todo o tipo de serviços, sob pretexto, não comprovado, de um aumento da eficiência. Quer num quer noutro caso, ganham alguns e perdemos todos nós que, ora pagamos um Estado esbanjador ora não temos um Estado que continuamos a pagar.

Na área das tecnologias da informação e comunicação (TIC), a nova moda para o emagrecimento é a computação na nuvem (cloud computing). De repente, chegou-se à conclusão de que é mais eficiente utilizar as redes de comunicação para partilhar recursos informáticos, virtualizar infraestruturas e plataformas, aceder a serviços comuns, em vez de tentar reinventar a roda em cada serviço ou sector do Estado.

O que é curioso é que já há vários anos é possível tirar partido da partilha de recursos e serviços informáticos, mas sempre se preferiu a replicação desnecessária de meios. Existiriam muitos fatores para essa opção mas, seguramente, não eram de ordem técnica. Então porque é que agora se fala tanto em cloud computing, como forma de racionalizar os serviços de TIC do sector estatal? O que mudou? A resposta é simples: só agora existem condições de mercado para a contratação de um serviço externo dessa natureza, e fazê-lo com recursos internos é, presentemente, politicamente incorreto.

Não se pode assumir, no entanto, que a contratação de um serviço ao exterior seja, a priori, boa ou má. O preconceito é o primeiro passo para a tomada de decisões erradas, das quais é muito fácil encontrar exemplos em todas as áreas. O que é importante é analisar os prós e os contras de cada solução e tomar decisões fundamentadas, já que, ao contrário do que possa parecer, na área das TIC também não há soluções milagrosas.

Por exemplo, no que diz respeito ao cloud computing, várias questões devem ser colocadas. Quais os custos de uma solução de cloud computing comercial? Quais as poupanças que podem ser conseguidas? Essas poupanças são imediatas ou a prazo? Quando vão essas poupanças amortizar o investimento e custos de operação do cloud computing? Quais os riscos e problemas do cloud computing? Quais os custos potenciais desses riscos? Quais as implicações de sediar informação de natureza estatal em servidores operados por empresas privadas com fins comerciais?

Mas talvez o mais importante de toda esta problemática seja perceber que não se pode passar de um Estado gordo para um Estado esquelético sem grandes transtornos. É que dietas loucas sempre fizeram mal à saúde.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

De igual para igual


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 20 de Novembro de 2012


Recebi há pouco, como muitos milhares de portugueses, uma motivadora mensagem de correio electrónico originária da Autoridade Tributária e Aduaneira, apelando à exigência de fatura em todas as vendas de bens e serviços.

No que diz respeito à substância do apelo, não poderia estar mais de acordo e esta iniciativa só me pode merecer elogios. Estima-se que se não existisse evasão fiscal e se todos os cidadãos pagassem os seus impostos não haveria défice orçamental e desapareceria a necessidade da tão famigerada austeridade.

Já no que diz respeito à forma da mensagem, tenho que confessar que me desagradou. Por um lado, pretende-se que a mensagem seja entendida como personalizada, pessoal até, sendo, nalgumas partes, quase emotiva, invocando a equidade, a justiça e o dever de todos nós. É a parte agradável, pois quase nos faz crer que, finalmente, o Estado começa a ter em conta a pessoa de carne e osso que mora em cada um de nós. Por outro lado, logo no início fui brindado com um “Ex.mo Senhor 143......”, seguido do meu nome à laia de complemento redundante e, por isso, perfeitamente dispensável.

É certo que todos temos que ter um número de identificação fiscal e que esse número é, provavelmente, aquilo que melhor nos identifica perante o Estado, já que é um número único, sem qualquer ambiguidade, ao contrário do nome. É certo que, de um ponto de vista informático, qualquer base de dados tem que utilizar esses identificadores únicos, chamados “chaves primárias” no jargão das tecnologias da informação e comunicação (TIC). Também é certo que a missiva que muitos de nós recebemos é uma mera mensagem gerada automaticamente, por um frio programa. Mas não é menos certo que quem configurou esse envio em massa poderia – deveria, direi eu – ter optado por não incluir na mensagem, logo a seguir ao “Ex.mo Senhor”, o número de identificação fiscal, incluindo simplesmente o nome. Desta forma, sim, teríamos uma mensagem muito mais coerente, muito mais pessoal, muito mais eficaz.

É que não há necessidade de acentuar aquela ideia que muitos de nós já temos de que somos apenas números numa gigantesca base de dados, que nos envia mensagens automaticamente para que os números passem a ser diferentes e o sistema se equilibre numericamente aos olhos dos que, interna e externamente, reduzem economias e sociedades a mais alguns números.

Somos pessoas! Este país, todos os países, são feitos de pessoas, que têm sentimentos, anseios, alegrias e desilusões. E todos os sistemas, todas as bases de dados, existem para nos servir e não o contrário.

Como nota final, também me desagradou o facto de a pessoa que tão cordialmente assina a mensagem não ter colocado o seu número de identificação fiscal antes do seu próprio nome. Daria, assim, o exemplo, pois estaria a falar de número para número, ou seja, de igual para igual.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Austeridade


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 13 de Novembro de 2012


Nos dias de hoje muito se fala na austeridade como solução para a crise que nos assola. A crise, mero sintoma de um problema complexo, é atacada com uma única arma – a austeridade – automática e universalmente aceite, materializada em menor rendimento para os que trabalham e menos serviços de saúde, de educação e de segurança social para todos os cidadãos.

Curiosamente, por outro lado, pouco se fala nos problemas que estão por detrás do sintoma que é a crise, problemas esses que passam, pelo menos parcialmente, por uma boa dose de falta de racionalidade e rigor na utilização de recursos. Se não se gastasse tanto dinheiro mal gasto, talvez não houvesse tanta necessidade de reduzir a mínimos dramáticos as missões fundamentais do Estado, causando, de um momento para o outro, tanta comoção social.

É certo que, em rigor, nem devia ser necessário estar-se em crise para se falar na otimização da utilização dos meios disponibilizados ao Estado, pagos por todos nós, já que quer em tempos de crise quer fora dela deve ser minimizado o esforço financeiro pedido aos contribuintes.

Infelizmente, não é preciso procurar muito para, em qualquer sector, se encontrarem exemplos de gastos desnecessários. A área das tecnologias da informação e comunicação (TIC) não é exceção.

Um exemplo gritante é o da utilização de todo o tipo de pacotes de software requerendo elevados gastos anuais de licenciamento, apesar da existência de soluções equivalentes de utilização livre (o chamado “open source”). Se contabilizarmos os gastos de licenciamento de software na administração central e local, certamente se atingirão valores de vários milhões de euros. Será que somos mais ricos do que países como a França e a Alemanha, que recorrem a software de utilização livre nas suas administrações?

Ainda no domínio das TIC, a proliferação descontrolada de serviços e plataformas informáticos, replicados até à exaustão em cada sector da máquina do Estado, financiada durante largos anos por arrojados programas de modernização, conduz agora a enormes gastos de manutenção, gestão e atualização, quer de hardware quer de software.

Poucos questionaram então a correção e racionalidade desses “investimentos” (e os que o fizeram sempre foram olhados com desconfiança), mas muitos são os que agora falam em austeridade, sem se preocuparem em ir mais fundo na busca de fatores de desperdício.

Se não há dinheiro, corta-se em pessoas e serviços, pois é muito mais fácil do que identificar as verdadeiras causas do problema, a razão dos gastos, as ineficiências. É muito mais cómodo não admitir erros, não encarar os problemas, não procurar soluções, não tomar decisões. É muito mais simples deixar que a austeridade venha resolver – mal, diga-se de passagem – os problemas que a irracionalidade gerou.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Demasiado espertos


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em de 6 de Novembro de 2012


Há pouco tempo, enquanto esperava por um avião num qualquer aeroporto da Europa, um colega de viagem tentava convencer-me das maravilhas de duas aplicações que utilizava frequentemente no seu telemóvel: uma indicava-lhe a refeição que deveria tomar, tendo em atenção o que tinha comido recentemente; a outra, alertava-o para o caso de estar a comprar produtos dos quais não tinha necessidade. Eu, na minha ingenuidade de tecnólogo crítico de certas aplicações, bem tentava explicar-lhe os inconvenientes, mas falhei redondamente.

O que é certo é que, quase sem nos apercebermos disso, estamos, cada vez mais, dependentes das tecnologias da informação e comunicação (TIC). Nos nossos automóveis, sistemas de posicionamento global falam connosco e dizem-nos como chegar ao destino pretendido, sem sobressaltos, enganos ou aventuras.  Cada vez mais cedo as crianças adquirem dependência em relação aos “smartphones”, que assumem um papel essencial não só na sua vida, mas também na vida de muitos de nós.

A tendência atual dos “smartphones” é a de se tornarem assistentes pessoais. De facto, alguns modelos já exploram essa funcionalidade, permitindo que falemos para eles, lhes façamos perguntas e demos ordens em linguagem natural, prontamente respondidas ou executadas, sem hesitações ou queixas.

De facto, um “smartphone” dos nossos dias é já muito mais “smart” (esperto) do que “phone” (telefone). Num futuro próximo, estes dispositivos serão utilizados para praticamente tudo, recolhendo informação do ambiente e de nós próprios.

Assim, usando sensores apropriados, poderão recolher informações sobre pressão arterial, ritmo cardíaco, análises sanguíneas, padrões de sono, estado psíquico, etc., e enviar esses dados para o nosso médico.

Poderão, também, ser utilizados para monitorizar bebés e crianças,  auxiliar atletas nos seus treinos, reconhecer pessoas das quais já nos esquecemos, auxiliar na condução de veículos detetando situações de risco, registar gostos pessoais, servir de guia fora e dentro de edifícios, traduzir o que dizemos para qualquer língua.

Poderão, ainda, ser utilizados para quantificar tudo o que fazemos, quantas calorias ingerimos, quantos passos damos, quantas horas dormimos. No fundo, para além de assistentes pessoais, serão conselheiros, treinadores, enfermeiros e, não nos esqueçamos, insistentemente controladores.

Mas, mais do que controlo e esperteza, as pessoas precisam é de inteligência. Por isso, se formos inteligentes, depressa perceberemos que, em vez de nos deixarmos controlar por um telefone mais ou menos esperto, temos é que desligá-lo e viver a vida, em toda a sua beleza e com toda a sua incerteza. É que é dessa beleza e dessa incerteza que são feitas as melhores e mais geniais coisas do mundo.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A ameaça que vem do espaço


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 31 de Outubro de 2012


Ao contrário do que poderia parecer pelo título, intencionalmente sensacionalista, não vamos aqui falar de invasões de extraterrestres, de colisões com cometas ou asteroides, ou de quaisquer outras especulações próprias de filmes de ficção científica. Falaremos, sim, de coisas reais, que já aconteceram no passado e que voltarão a acontecer porque essa é a natureza do Universo.

Já algumas vezes nesta crónica referi a crescente e inevitável dependência do nosso mundo em relação às tecnologias da informação e comunicação (TIC). Um ataque informático que deixasse inoperacional redes e serviços de TIC teria consequências imprevisíveis na economia e na própria civilização, já que poderia afectar infraestruturas críticas, paralisar a produção de bens alimentares ou outros, e levar a uma escalada bélica de dimensão indeterminada.

Felizmente que um ataque desse tipo é muito improvável. Infelizmente, o mesmo não se pode dizer de um fenómeno físico inevitável, embora pouco frequente, que pode, em poucos minutos, tornar inoperacionais as redes de energia eléctrica à escala de continentes ou do globo, paralisando, consequentemente, tudo o que funciona a eletricidade: as tempestades solares.

De facto, a nossa estrela – o Sol, sem o qual a vida na Terra não seria possível – é agora uma das principais fontes de preocupação para a Humanidade. As tempestades solares, nome pelo qual são conhecidas as emissões de massa da coroa solar, ocorrem constantemente. No entanto, existe um ciclo de onze anos, ao longo do qual a intensidade e frequência das tempestades varia entre um mínimo e um máximo. No final de 2012 e princípio de 2013 ocorrerá um máximo.

As tempestades solares transportam milhões de toneladas de partículas carregadas electricamente que, ao atingirem o nosso planeta, interagem com o seu campo magnético e criam fortíssimas correntes induzidas em todos os sistemas elétricos, com especial efeito em linhas e transformadores de alta tensão. Estes transformadores, extremamente caros e de difícil manufatura, para os quais não existe rápida capacidade de reposição a nível mundial, podem ficar completamente queimados durante uma tempestade solar.

1859, 1921 e 1989 foram anos de intensa atividade solar. No último caso, a rede eléctrica da província canadiana do Quebec foi fortemente afetada, deixando milhões de pessoas sem energia durante 9 horas. Felizmente que essa tempestade não foi tão má como as de 1921 e de 1859, épocas em que as redes eléctricas eram ainda embrionárias.

Uma tempestade solar como a de 1859 causaria hoje prejuízos e reveses à escala mundial e lançaria o caos. Infelizmente, o avanço tecnológico generalizado não nos protegeu melhor de uma eventualidade destas. De facto, até nos tornou mais vulneráveis.

sábado, 27 de outubro de 2012

O poder é do povo


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 26 de Outubro de 2012


Todos reconhecemos que as tecnologias da informação e comunicação (TIC) são essenciais para o desenvolvimento e para a economia. Ao possibilitarem o acesso ao conhecimento e a fácil comunicação entre pessoas, as TIC potenciam todo o tipo de atividades e serviços. Se, de um momento para o outro, as TIC deixassem de estar disponíveis, a civilização não recuaria apenas algumas décadas mas sim duzentos anos, dado o impacto negativo de tal acontecimento.

Mas não é só para a economia que as TIC são essenciais. São-no, cada vez mais, para a cidadania, para a democracia e para a liberdade. Estudos recentes de natureza sociológica apontam claramente para o facto de que a utilização das TIC reduz a corrupção e tem um impacto positivo na qualidade das democracias.

Com efeito, o acesso generalizado à informação aumenta consideravelmente as possibilidades de detecção de atos de corrupção e esse facto é, em si mesmo, o principal fator inibidor da própria corrupção.  Sem informação não há controlo nem investigação, peças essenciais para o combate à corrupção.

Por outro lado, informação e conhecimento sempre foram sinónimo de poder. Não é à toa que governos de países não democráticos impedem o trabalho dos media, condicionam as comunicações e cortam o acesso à Internet em situações de crise. Quem controla a informação detém o poder. Foi e será sempre assim, e todos nos lembramos da recente primavera árabe e do papel que as TIC, como instrumento de comunicação e sensibilização à escala global, desempenharam.

Com as TIC, o poder da informação passa a estar descentralizado e acessível a todos. Todos podem partilhar e gerar informação. Poder e influência são democratizados. E se isto é verdade para os países menos democráticos, não o é menos para a mais democrática das nações, seja ela qual for.

A verdade é que as TIC,  ao suportarem serviços como blogues e redes sociais, têm um potencial gigantesco nas transformações políticas. Inicialmente vistos como curiosidades, blogues e redes sociais são agora encarados como ferramentas cruciais para políticos e decisores, transformando o jogo e panorama políticos à escala global.

É certo que as TIC não passam de um instrumento. É até bom que não passem disso e não se subverta a sociedade – como por vezes parece querer fazer-se – por forma a que sejam as pessoas a subjugar-se aos ditames desta ou daquela tecnologia posta ao serviço de uma sociedade cada vez mais processual e menos substancial, e não o contrário.

Não se pode negar, no entanto, que as TIC são um instrumento poderosíssimo e uma defesa para todos os cidadãos. As TIC reduzem a assimetria de informação entre cidadãos e governos, possibilitando que aqueles se façam ouvir. Nunca como agora o poder pertenceu tanto ao povo.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Pessoas ou objetos?


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 15 de Outubro de 2012


A tecnologia RFID (radio frequency identification) tem já alguns anos, sendo bastante madura. Esta tecnologia permite ler informação armazenada numa etiqueta, sem necessidade de contacto entre a etiqueta e o leitor, que podem estar distanciados até vários metros. Existem algumas variantes de RFID, podendo as etiquetas dispor de bateria ou não. Neste último caso, as etiquetas funcionam com a própria energia electromagnética emitida pelo leitor.

Todos conhecemos várias aplicações da RFID, desde o pagamento automático de portagens aos chamados microchips implantados em animais de estimação, passando pelos dispositivos antirroubo largamente utilizados no comércio. Basicamente, esta tecnologia permite que objetos ou entidades sejam identificados de forma electrónica, o que pode ser utilizado para uma série de ações subsequentes.

Por exemplo, com esta tecnologia pode identificar-se individualmente cada bovino de uma exploração e, por detecção da sua presença junto de um posto de alimentação, saber se comeu, quando comeu e/ou quanto comeu.

É claro que a tecnologia RFID não fornece esses dados só por si, tendo que ser conjugada com outras tecnologias de informação e comunicação (TIC) como, por exemplo, bases de dados ou sistemas de informação.

Uma das áreas de aplicação emergente desta tecnologia é a da localização. Devido ao diminuto tamanho da etiquetas RFID, estas podem ser colocadas em qualquer dispositivo ou objeto. Por exemplo, podem ser colocadas num portátil, num telemóvel, numa peça de roupa, numa mochila ou num livro. Também podem ser injetadas em animais e há quem defenda a sua utilização também em pessoas.

Aplicações para acompanhamento de pessoas idosas em lares ou para monitorização de doentes dentro de unidades hospitalares são cada vez mais referidas na literatura. Também há projetos para utilização de RFID no controlo de alunos dentro das instituições de ensino, permitindo determinar, entre outras coisas, a sua presença nas aulas, informação essa que seria disponibilizada em tempo real não só à direção da escola como aos respetivos encarregados de educação.

É claro que todas as aplicações envolvendo pessoas são extremamente delicadas, porque interferem com a sua liberdade e privacidade. Com a tecnologia atualmente disponível poder-se-ia facilmente controlar o que se faz e onde se está. Muitos alegarão que esse controlo deve ser feito e que só será feito por motivos de segurança de todos e, inclusivamente, de cada pessoa.

Não me parece, no entanto, que a utilização das TIC para esses fins seja benéfica. Independentemente de a tecnologia permitir esta ou aquela aplicação, há algo que sempre se deve sobrepor a tudo: a dignidade dos cidadãos, que não podem, em caso algum, ser tratados como objetos.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Tecnologicamente avançados


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 8 de Outubro de 2012


Muito se fala em cloud computing, termo que poderia ser traduzido para português como computação na nuvem. O conceito de cloud computing foi inventado há mais de cinquenta anos, em 1961, embora não com esse nome, por John McCarthy (n. 1927, f. 2011), um cientista de computadores e pioneiro da inteligência artificial.

De forma simplificada, o cloud computing consiste na utilização de quaisquer recursos computacionais, interligados através da Internet (normalmente representada por uma nuvem, ou cloud) de forma a fornecer serviços aos utilizadores independentemente da sua localização e do dispositivo que estão a utilizar para se ligarem à rede. Os recursos – por exemplo, redes, servidores, espaço de armazenamento, aplicações ou serviços – são partilhados por diversos utilizadores, disponibilizados a pedido e geridos com o mínimo de sobrecarga de gestão.

Trata-se de um paradigma muito apelativo, já que permite, por exemplo, que uma empresa tenha acesso a meios e serviços informáticos sem necessidade de investir em equipamentos, software e especialistas informáticos para a sua gestão. Com o cloud computing, esses meios são simplesmente alugados, recorrendo a um fornecedor de serviços.

As vantagens da computação na nuvem são reconhecidas por muitos (embora não nos devamos esquecer das desvantagens, que também existem). Infelizmente, nos muitos que as reconhecem encontram-se também utilizadores menos bem intencionados. É o caso de um grupo não identificado de ciber-ladrões que, recentemente, construiu e utilizou um sistema informático para roubar bancos, baseado em cloud computing.

De acordo com a investigação realizada por uma empresa de software de segurança, o sistema teve como alvo contas com elevados saldos em bancos europeus, da América Latina e dos Estados Unidos da América, estimando-se que tenham sido desviados cerca de dois mil milhões de dólares. Os aspetos inovadores deste sistema são o seu considerável grau de automatização e a utilização de um conjunto de cerca de sessenta servidores em ambiente de cloud computing que orquestraram o ataque.

É claro que o sistema não poderia ter sido construído sem um conhecimento profundo do sistema de transações bancárias – o que mostra que as maiores ameaças à segurança vêm frequentemente de dentro das organizações – e sem explorar a maior fragilidade em qualquer sistema: os seus utilizadores. Sem isso, nada poderia ter sido feito.

Mas, em qualquer caso, não deixa de ser interessante confirmar a regra de que o mundo do crime está sempre muito avançado tecnologicamente, sempre atento a todas as oportunidades e sempre pronto para explorar as novas tecnologias para os seus fins. Nesta matéria, as tecnologias de cloud computing não são exceção.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Os novos especuladores


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 25 de Setembro de 2012


Os antropólogos discutem ainda se foi a inteligência dos primeiros humanos que levou ao desenvolvimento de ferramentas, ou se foram as ferramentas primitivas que tiveram um papel fundamental no desenvolvimento da inteligência. Uma coisa é certa, esse desenvolvimento foi efetuado ao longo de milhões de anos.

De facto, fomos “construídos” de forma a lidar bem com mudanças lentas. O problema é que no mundo de hoje não se pode dizer que as coisas andem devagar, a começar pelas ferramentas que utilizamos, que surgem a um ritmo alucinante e, em grande parte, fogem ao nosso controlo.

Falo, em particular, das ferramentas que recorrem às tecnologias da informação e comunicação (TIC), das quais dependemos cada vez mais e que, em muitos casos, já nos cerceiam a liberdade.

Deixemos, no entanto, a discussão sobre o impacto que as ferramentas de TIC têm sobre nós para antropólogos e sociólogos – esperando que essa discussão sobreviva à velocidade de mudança imposta pelas TIC – e avancemos para um caso concreto: as transações financeiras.

As TIC possibilitam agora que as transações financeiras se façam de forma praticamente instantânea. À primeira vista, poderemos pensar que só há vantagens nisso, mas o que é certo é que muitos especialistas creem que isso está na base da volatilidade dos mercados e da crise económica mundial que agora vivemos.

Certamente, pensarão muitos leitores, a culpa não está nas TIC ou na rapidez que permitem, mas sim nos famigerados e odiados especuladores, que ninguém parece conhecer. A questão é que a grande maioria das transações financeiras que ocorrem no mundo já não são ditadas por pessoas mas sim por algoritmos computacionais, desenvolvidos para maximizar lucros. Essas transações ocorrem entre computadores, de forma totalmente automatizada, sem qualquer intervenção humana. São os computadores que vendem e compram ações, ditam taxas de juro, especulam.

Dir-se-á que há regras, que há regulamentação internacional, que há fiscalização e que, por isso, tudo está sob controlo. Os especialistas sabem que as regras existentes ou são demasiado frouxas ou são demasiado complexas para serem postas em prática e serem fiscalizadas.

Economias, países inteiros, milhões de vidas humanas são, assim, afetados por um sistema em grande parte automatizado e sob controlo de computadores. Os governos lutam, esperneiam, tomam medidas, exigem sacrifícios. Por outro lado, os algoritmos computacionais financeiros reagem de forma autónoma aos mercados, cegos a pessoas, a vidas, a destinos. Quase que dá para perguntar: será que são as pessoas que usam as TIC ou será que são as TIC que usam as pessoas? Será que perdemos o controlo sobre as nossas ferramentas? Provavelmente, só os computadores saberão a resposta.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Acreditar no futuro


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 17 de Setembro de 2012


Como povo, nunca receámos ultrapassar as nossas fronteiras e procurar novas terras e novos futuros, com diferentes sortes, é certo. Quando o mundo, calcorreado de lés a lés, se tornou pequeno e conhecido, continuámos a fazê-lo, já não como nação, mas como indivíduos, procurando incessantemente melhores porvires.

Vivemos agora uma época em que, de novo, a escassez de oportunidades impele muitos a procurar no estrangeiro uma vida melhor. Existem, no entanto, algumas diferenças fundamentais em relação ao passado.

Investimos muitos recursos na educação e formação de várias gerações. Independentemente da eficiência na utilização desses recursos – que agora não vem ao caso – formámos profissionais competentes, capazes, dedicados. Empurramo-los agora para fora do país e, ao fazê-lo, damos por perdidos os recursos que gastámos (e que estamos agora a pagar) e, o que é ainda pior, comprometemos o futuro ao esbanjarmos a nossa maior riqueza: as pessoas que seriam capazes de construir aqui um futuro melhor para todos.

Nalgumas áreas, no entanto, ainda se pode resistir um pouco. Uma delas é a das tecnologias da informação e comunicação (TIC). Na última década surgiram no país muitas empresas de TIC, em muitos casos originárias do meio universitário. São as chamadas empresas de spin-off (aqui faço um parêntesis: as universidades, que alguns, pouco atentos, ainda consideram fechadas sobre si, têm gerado centenas de empresas de spin-off, que muito têm dado ao país).

Pois essas empresas cedo perceberam que o mercado interno é limitado e, portanto, que haveria que procurar novos mundos. Mas em vez de os seus especialistas procurarem lá fora os empregos que, certamente, teriam facilidade em arranjar, preferiram criar riqueza no seu próprio país. Recorrendo às próprias TIC, alargaram os seus horizontes, abarcando mercados internacionais e exportando as suas soluções informáticas para todo o mundo, com enorme sucesso.

Claro que, para isso, houve que reunir muitas coisas: visão, competência, iniciativa, perseverança, meios financeiros e, naturalmente, porque não dizê-lo, sorte. No fundo, aproveitou-se o génio, investiu-se e arriscou-se. Só assim se consegue vencer.

O sucesso dessas empresas a elas se deve. Construíram-no com sacrifício, competindo com outras, de muitos outros países, que também procuravam objetivos semelhantes. Fizeram-no lutando contra muitos obstáculos, não poucas vezes internos ao próprio país, carregado de desigualdades que se agravam todos os dias.

Ao fazê-lo mostraram que é possível ter sucesso à escala internacional e que é possível continuar a viver e a lutar por um país melhor. Felizmente, as TIC não são exemplo único. É que precisamos de muitos exemplos destes para não deixar de acreditar no futuro.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

A aldeia global


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 10 de Setembro de 2012


O conceito de aldeia global – que parece estar outra vez na moda – tem já meio século de existência e refere-se à contração virtual do mundo, das suas economias, das suas culturas e das formas de pensar, provocada pela facilidade de deslocação e de comunicação. Todos estamos em contacto uns com os outros, todos dependemos de todos e, por isso, mais do que nunca, nos parece que o mundo é uma pequena aldeia.

É claro que para isso muito contribuem as tecnologias da informação e comunicação (TIC), fixas ou móveis, já que aproximam as pessoas – ainda que estas estejam separadas por meio mundo – e fazem chegar a qualquer lado informação, opiniões, denúncias e apelos. Que as TIC potenciam uma consciencialização global e que são, por isso, uma ferramenta explorada e temida por governos, governantes e opositores, não existe dúvida.

No entanto, analisando bem o mundo em que vivemos, rapidamente se chega à conclusão de que o conceito de aldeia global não passa disso mesmo, um idealismo, algo que não tem correspondência com a realidade, quiçá um mero instrumento de marketing.

Não existe aldeia global e ainda bem que assim é. Mais ainda, felizmente que as TIC – que muitos encaram como a base dessa inexistente aldeia global – nos mostram que somos um mundo feito de diferentes culturas e costumes, diferentes línguas, diferentes histórias e diferentes nações, já que é nessa variedade que está a riqueza dos povos e é nessa diversidade que devemos alicerçar o respeito pela diferença.

É certo que as TIC mudaram profundamente – e continuarão a mudar – o mundo que nos rodeia mas, apesar disso, é curioso verificar que por muitos avanços tecnológicos, por muita civilização, continuamos a guiar-nos pelos mesmos impulsos contraditórios de tribalismo e individualismo que sempre estiveram subjacentes à evolução da nossa espécie. Se, por um lado, cultivamos o individualismo, a personalização e a diferença, por outro alicerçamos muito do nosso equilíbrio em formas de pertença a grupos.

Daí que o conceito de aldeia global seja, simultaneamente apelativo e repugnante. Apelativo, porque potenciador do espírito de pertença. Repugnante, porque redutor da diferença, da identidade dos grupos e de cada um.

Mas não nos deixemos levar por conceitos ou chavões de pouca ou nenhuma validade. Uma coisa é certa: independentemente da duvidosa utilidade do conceito de aldeia global, são as próprias TIC que nos permitem perceber que o mundo não é uma aldeia, mas sim que cada região, cada cultura, cada aldeia é, em si mesma, um mundo. Resta-nos agora, utilizar as TIC para melhor explorar e projetar o pequeno grande mundo que existe em cada aldeia. Se o soubermos fazer, ninguém mais falará em aldeia global e o mundo só terá a ganhar com isso.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Estaremos preparados?



Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 3 de Setembro de 2012


Muitos dos avanços tecnológicos foram impulsionados por motivações militares, quer de natureza ofensiva quer defensiva. Um dos exemplos mais marcantes é o da própria Internet, cuja origem, na década de 1960, está ligada ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América (EUA).

Muita água passou debaixo das pontes desde os primórdios da Internet, de tal modo que parece que vivemos já num outro planeta. A Internet e as tecnologias da informação e comunicação (TIC) mudaram o mundo, não pela via militar mas sim por via da sociedade civil, de tal forma que hoje é impossível viver sem as TIC.

Não deixa, no entanto, de haver alguma ironia do destino no facto de as TIC serem agora encaradas como uma das mais temidas armas no nosso planeta. Alguns leitores pensarão, neste ponto, que esta é uma afirmação com um elevado grau de exagero, mas uma análise um pouco mais detalhada será suficiente para mostrar que assim não é.

As TIC são essenciais para todas as áreas da atividade, desde a agricultura ao comércio, passando por todo o tipo de indústrias. Para um número incontável de empresas e entidades o ataque mais temido é um ataque aos seus sistemas informáticos, à sua informação, já que tal ataque as poderia tornar inoperacionais. A ligação em rede é essencial para essas empresas, mas é também a principal fonte de preocupação. Por isso se investe cada vez mais em segurança informática.

No entanto, a ameaça informática subiu recentemente para um outro nível. As TIC podem agora ser – e são-no, de facto – utilizadas por países para a chamada ciberguerra, quer em termos defensivos quer em termos ofensivos. A partir do momento em que se percebeu que um ataque cibernético pode por em causa infraestruturas críticas como redes de água, redes de eletricidade, redes de gás e redes de telecomunicações, as TIC passaram a ser de enorme importância para a segurança dos países.

A prova de que o perigo é real é o facto de os EUA e a Rússia estarem em negociações para o estabelecimento de uma linha de comunicação segura – e respetivas formas de funcionamento e utilização – para prevenir a ameaça de ciberguerra entre os dois países, à semelhança do famoso telefone vermelho criado em 1963, em plena guerra fria, para ligação direta entre a Casa Branca e o Kremlin. Conversações semelhantes decorrem, também, entre os EUA e a China.

A troca de informação entre estes países poderá evitar que, em presença de ciber-ataques não identificados, haja uma escalada de violência cibernética ou mesmo bélica, de consequências imprevisíveis.

Já ninguém parece duvidar de que as TIC são uma arma temível, no verdadeiro e literal sentido do termo. Neste contexto, importa perguntar: e nós, aqui neste cantinho à beira-mar plantado, estaremos preparados?