Artigo de opinião
publicado no diário ‘As Beiras’
em 17 de Setembro
de 2012
Como povo, nunca receámos
ultrapassar as nossas fronteiras e procurar novas terras e novos futuros, com
diferentes sortes, é certo. Quando o mundo, calcorreado de lés a lés, se tornou
pequeno e conhecido, continuámos a fazê-lo, já não como nação, mas como
indivíduos, procurando incessantemente melhores porvires.
Vivemos agora uma época em
que, de novo, a escassez de oportunidades impele muitos a procurar no
estrangeiro uma vida melhor. Existem, no entanto, algumas diferenças
fundamentais em relação ao passado.
Investimos muitos recursos
na educação e formação de várias gerações. Independentemente da eficiência na
utilização desses recursos – que agora não vem ao caso – formámos profissionais
competentes, capazes, dedicados. Empurramo-los agora para fora do país e, ao
fazê-lo, damos por perdidos os recursos que gastámos (e que estamos agora a
pagar) e, o que é ainda pior, comprometemos o futuro ao esbanjarmos a nossa
maior riqueza: as pessoas que seriam capazes de construir aqui um futuro melhor
para todos.
Nalgumas áreas, no entanto,
ainda se pode resistir um pouco. Uma delas é a das tecnologias da informação e
comunicação (TIC). Na última década surgiram no país muitas empresas de TIC, em
muitos casos originárias do meio universitário. São as chamadas empresas de
spin-off (aqui faço um parêntesis: as universidades, que alguns, pouco atentos,
ainda consideram fechadas sobre si, têm gerado centenas de empresas de
spin-off, que muito têm dado ao país).
Pois essas empresas cedo
perceberam que o mercado interno é limitado e, portanto, que haveria que
procurar novos mundos. Mas em vez de os seus especialistas procurarem lá fora
os empregos que, certamente, teriam facilidade em arranjar, preferiram criar
riqueza no seu próprio país. Recorrendo às próprias TIC, alargaram os seus
horizontes, abarcando mercados internacionais e exportando as suas soluções
informáticas para todo o mundo, com enorme sucesso.
Claro que, para isso, houve
que reunir muitas coisas: visão, competência, iniciativa, perseverança, meios
financeiros e, naturalmente, porque não dizê-lo, sorte. No fundo, aproveitou-se
o génio, investiu-se e arriscou-se. Só assim se consegue vencer.
O sucesso dessas empresas a
elas se deve. Construíram-no com sacrifício, competindo com outras, de muitos
outros países, que também procuravam objetivos semelhantes. Fizeram-no lutando
contra muitos obstáculos, não poucas vezes internos ao próprio país, carregado
de desigualdades que se agravam todos os dias.
Ao fazê-lo mostraram que é
possível ter sucesso à escala internacional e que é possível continuar a viver
e a lutar por um país melhor. Felizmente, as TIC não são exemplo único. É que
precisamos de muitos exemplos destes para não deixar de acreditar no futuro.
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