Artigo de opinião
publicado no diário ‘As Beiras’
em 15 de Janeiro
de 2013
As tecnologias da
informação e comunicação (TIC) estão tão entranhadas no nosso dia a dia que
quase não nos apercebemos que muitas das coisas que vemos acontecer são
resultado de processos quase totalmente ou mesmo totalmente automatizados.
Linhas de produção inteiras
funcionam de forma automatizada, nas quais robôs são controlados por
computadores, sob supervisão de um número muito reduzido de operadores.
Comboios viajam constantemente sem condutor, em aeroportos e em linhas de
metropolitano em várias cidades do mundo. A condução de veículos privados é,
cada vez mais, apoiada em computadores e respetivo software. Equipamentos cirúrgicos de precisão são controlados
informaticamente. Cada vez mais a nossa segurança depende de máquinas, de
autómatos, de software, e menos de
pessoas.
Os sistemas automatizados
têm gradualmente provado que são seguros, quiçá mais seguros que os que são
controlados por operadores humanos. Apesar disso e de todos os avanços tecnológicos,
uma das áreas que ainda resiste à total automatização é a dos voos comerciais.
Uma grande parte dos
acidentes aéreos deve-se a erros humanos. Nalguns casos, se os sistemas de
piloto automático tivessem sido deixados operar normalmente, esses acidentes
não teriam ocorrido.
A prova de que a tecnologia
atual já permite efetuar voos sem piloto é o facto de isso ser já comum em
muitos sistemas militares. Aviões não tripulados, comandados por operadores em
terra, são cada vez mais utilizados em missões, críticas ou de rotina, com
desempenhos que dificilmente seriam atingidos pelos melhores pilotos humanos. Sistemas
de pilotagem automática são utilizados para controlar o voo de caças F-18,
desde o momento em que levantam até que aterram em porta-aviões, sob as mais
rigorosas condições atmosféricas. Nesses casos, os pilotos simplesmente
assistem à aterragem, sem tocarem nos comandos.
Os próprios aviões
comerciais já dispõem, em muitos casos, de equipamentos que permitem que todas
as fases do voo sejam automáticas. É claro que ainda existem alguns desafios
técnicos até que aviões comerciais possam efetuar voos sem piloto. Um deles é o
da melhoria dos canais de comunicação com a aeronave, problema esse que não
existe nos voos militares, já que estes sistemas têm canais de comunicação
dedicados.
O maior e mais forte
obstáculo é, no entanto, psicológico. Poucas pessoas aceitariam viajar num
avião sabendo que este não teria piloto. É muito mais reconfortante saber que
se partilha o destino com um piloto e um copiloto do que com um conjunto de
sistemas computacionais e software, ainda
que, na realidade, os pilotos sejam muito mais falíveis. No entanto, à
semelhança do que está a acontecer com comboios e automóveis, será apenas uma
questão de tempo. Afinal, no nosso dia-a-dia, não confiamos nós os nossos
destinos a pessoas que tantas vezes se enganam?