Artigo de opinião
publicado no diário ‘As Beiras’
em 7 de Janeiro
de 2013
Escrever, no início de 2013,
sobre os perigos da Internet seria, no mínimo, déjà vu, redundante, desnecessário. O mesmo aconteceria se falámos dos
seus benefícios e malefícios, amplamente debatidos, quase gastos de tanto
andarem nas bocas do mundo. Na realidade, a Internet é, cada vez mais, implícita
e invisível, tão subjacente que está a praticamente tudo o que fazemos. Talvez
por isso, ao contrário do que se pensa, não tenha efeitos para além de trazer à
luz as qualidades e defeitos que as pessoas, essas sim, têm.
Mais do que um fenómeno
tecnológico, a Internet é um fenómeno social, bastante semelhante,
salvaguardadas as proporções, a outras tecnologias e fenómenos relacionados com
a comunicação, como sejam a imprensa escrita, a rádio, o telefone, o cinema ou
a televisão, que, quando apareceram, revolucionaram o mundo.
Que me perdoem sociólogos e
antropólogos por meter foice em seara alheia (prometo, em troca, perdoar-lhes a
eles quando falarem de tecnologias), mas sou de opinião de que os tão
alardeados perigos e vícios imputados à Internet resultam, afinal, da natureza
humana e já caracterizavam os primeiros Homo Sapiens, se não mesmo outros
hominídeos que os antecederam.
Mas falamos, afinal, de que
vícios? Do ardil? Da mentira? Da inveja? Da ganância? Do egoísmo? Da vaidade? Da
luxúria? Não vou aqui reeditar os sete pecados capitais, obra já escrita por S.
Tomás de Aquino no século XIII, e muito menos condená-los ou louvá-los.
Basta-me, por agora, realçar que nada disso nasceu com a Internet, como é óbvio.
O que é importante é que se
aprenda a lidar com as características da Internet que potenciam alguns vícios.
Por exemplo, a superabundância de informação facilmente conduz à
superficialidade, à falta de análise, ao copy/paste sem que haja o cuidado de
analisar, compreender e selecionar a informação.
Curiosamente, também pode
ocorrer o contrário. A tentativa de limitar e personalizar em demasia os
interesses pode conduzir a grupos muitos fechados, a um estreitar de vistas e
de opiniões, a ecossistemas de informação demasiado delimitados. É um fenómeno também
comum noutros ambientes, que nada têm a ver com a Internet.
Outro efeito muito frequente
é o da propagação dos erros. Pelo facto de algo estar na Internet isso não
significa que seja correto ou verdadeiro. No entanto, existe uma tendência
quase natural em acreditar em informação publicada por outros. Assim, muitos
erros são propagados, de boa ou má fé.
Saber pensar por si
próprio, manter um espírito crítico mas aberto, confrontar e analisar
diferentes fontes são, por isso, essenciais num mundo inundado de informação. Desta
forma estaremos todos preparados para enfrentar os perigos e vícios que não
são, afinal, da Internet, mas sim de nós próprios. Estaremos, em suma, melhor preparados
para viver numa sociedade cada vez mais exigente.
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