Artigo de opinião
publicado no diário ‘As Beiras’
em 24 de Abril de
2012
Em Portugal, as
universidades e politécnicos dos dias de hoje são muito diferentes daquilo que
eram há alguns anos. Cada vez mais as instituições de ensino superior interagem
com a sociedade envolvente, sendo parceiros ativos – e, frequentemente, motores
– no desenvolvimento em variadíssimas áreas da ciência e da tecnologia.
A área das tecnologias da
informação e comunicação (TIC) é, claramente, uma daquelas em que o contributo
das instituições de ensino superior tem sido de realçar. Muitas são as empresas
de spin-off originadas nas nossas
universidades e politécnicos, com forte atividade exportadora e grande
visibilidade a nível nacional e internacional. Vários são os casos de
incubadoras de empresas muito bem sucedidas. Todas são alvo frequente de
atenção dos media, contribuindo para o orgulho nacional.
Se esse é o caso, isso em
muito se deve à excelência da investigação científica e desenvolvimento
tecnológico efetuados em várias das nossas escolas superiores. Naturalmente que
essa investigação e desenvolvimento (I&D) em TIC se faz com meios humanos
competentes, mas tal não seria possível se não existisse um ambiente
tecnológico capaz de a sustentar.
Falo aqui não só de
laboratórios de I&D com sofisticadas ferramentas de hardware e software, mas
também de todo um ambiente de produção, composto por infraestruturas de
comunicação utilizando as mais avançadas tecnologias, centros de dados de média
ou grande dimensão, serviços e sistemas de informação de elevada sofisticação,
complexidade e abrangência.
Este ambiente de produção,
de enorme exigência pois tem que prestar serviços 24 horas por dia, 7 dias por
semana, a comunidades que podem atingir dezenas de milhares de utilizadores,
não é apenas utilizado para suporte da atividade académica e administrativa. É
um ambiente essencial para as atividades de I&D e para a obtenção do know-how que não existe em mais parte
nenhuma da nossa sociedade.
É por isso que a iniciativa
de racionalização das TIC na Administração Pública não pode ser aplicada às
instituições de ensino superior como se estas fossem meras repartições ou
ministérios. Quem o pretende fazer não faz a mínima ideia do que é uma
universidade ou politécnico, da importância que estas escolas têm na
investigação e na formação de cientistas, engenheiros e outros profissionais e,
por conseguinte, de quão essenciais são para o nosso país.
Agora todos reconhecem que
as TIC na Administração Pública necessitam de racionalização. Os mais néscios
pensam que essa racionalização deve incluir as instituições de ensino superior.
Talvez se as tivessem ouvido há mais tempo não se tivessem cometido tantos
erros e não fosse agora necessário fazer uma racionalização que, no caso em
apreço, tem muito de irracional.