sexta-feira, 30 de março de 2012

Passos seguros


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 29 de Março de 2012


Não se poderá dizer que nunca me engane ou que raramente tenha dúvidas, mas apraz-me registar que mais de dois anos e meio depois de aqui, nestas breves linhas, ter advogado as vantagens da partilha de recursos de TIC (tecnologias da informação e comunicação), das soluções de código aberto e do cloud computing na administração central e local, o “Plano global estratégico de racionalização e redução de custos nas TIC, na Administração Pública – Horizonte 2012-2016” em adoção pelo Governo refira estas soluções como altamente benéficas e essenciais.

Referi essas vantagens em 2009 (vd. “Os 10 Mandamentos das Regiões Digitais”, As Beiras, 24 de Julho, pg. 30; “O potencial das TIC na Administração Pública”, As Beiras, 18 de Setembro, pg. 30; “Alguns riscos e problemas das TIC na Administração Pública”, As Beiras, 2 de Outubro, pg. 30), em 2010 (vd. “Optar pelas nuvens, com os pés assentes na terra”, As Beiras, 22 de Fevereiro, pg. 18), e em várias outras peças publicadas nesse ano, em 2011 e, também, em 2012.

Todas estas estratégias e soluções têm, claramente, aspetos fortemente positivos e, como tal, devem ser exploradas por forma a otimizar a utilização de recursos materiais e humanos. Mas devem-no ser não porque as respetivas denominações estejam agora na lista das buzz words tecnológicas – na qual o cloud computing ocupará, certamente, os lugares cimeiros – nem porque constem de algum relatório mais ou menos iluminado (quantos desses notáveis relatórios caíram no abismo do esquecimento em anos recentes?). Devem-no ser porque, de um ponto de vista de engenharia informática, são meios adequados para atingir os desejados fins de racionalização.

Infelizmente, parece que, em termos de políticas de TIC, nem todos aplicam práticas de engenharia adequadas, necessitando, por isso, de ‘incentivos’ como o referido plano estratégico.

Mas é precisamente porque as boas práticas de engenharia informática devem prevalecer no campo da aplicação das TIC ao mundo real, que a concretização de uma solução tecnológica específica se deve reger por uma cuidada análise custo-benefício da situação em apreço, e não por uma qualquer diretiva abstrata. Tomando como exemplo a aplicação do famoso cloud computing, há que, perante casos concretos, identificar objetivamente os custos da manutenção de uma solução tradicional e os custos de passagem para o cloud computing, sem esquecer os chamados custos escondidos, que só o são para os mais distraídos ou néscios.

Há, por isso, que fazer bem as contas – coisa que, pelos vistos, muitos parecem não saber – para não se embarcar em aventuras que sempre nos saem caras. Há que, enfim, dar passos no sentido da racionalização, com a certeza de que para além de meros passos serão, também, seguros.

quarta-feira, 21 de março de 2012

O que nunca muda


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 20 de Março de 2012



Apesar de estarmos a atravessar uma crise que, como é inevitável, afeta de forma distinta diferentes países e regiões do mundo, estima-se que a procura global de profissionais na área das tecnologias da informação e comunicação (TIC) continue a aumentar nos próximos anos. Este é o resultado natural da crescente utilização das TIC em todas as áreas de atividade.

Mas o forte dinamismo subjacente às TIC e sua utilização faz com que sobre os profissionais que a elas se dedicam recaia um enorme risco: o de uma obsolescência fulminante.

A informática é, ao contrário do que poderia parecer, uma profissão de desgaste rápido. Aquilo que há poucos anos poderia parecer promissor está agora esquecido. Aquilo que agora está em forte utilização poderá ser irrelevante em pouco tempo. Ninguém consegue antever o que estará em franca utilização num prazo de, por exemplo, apenas cinco anos. Para percebermos que tal é assim bastará olharmos para a evolução das TIC nas duas últimas décadas.

É certo que existe, neste momento, uma grande procura de profissionais especializados em ciber-segurança, em processamento e análise de dados, em desenvolvimento de aplicações Web, em comunicações móveis e suas aplicações, em informática médica, entre várias outras áreas de especialidade informática. No entanto, quem pode assegurar que tal continuará a ser assim por um período de tempo razoável?

Uma coisa, no entanto, é certa: a importância das TIC, em geral, continuará a crescer, já que cada vez mais a nossa sociedade assenta sobre a informação e o conhecimento. É por isso que nos cursos de informática das boas universidades – que, felizmente, as há pelas nossas bandas – para além de conteúdos e tecnologias se incentiva, cada vez mais, a adaptação à mudança, as formas de aprendizagem autónomas e o espírito inovador e crítico.

Dirão muitos que – como forma de melhor responder aos desafios da mudança – a formação dos novos informáticos deverá recorrer cada vez mais ao e-learning, aos e-books, ao cloud computing, à computação móvel, à Web 2.0, e a tantas outras ferramentas e ambientes dos quais se ouve falar de forma cada vez mais insistente.

Certamente que estas ferramentas desempenharão um importante papel, mas será que são elas que fazem o bom informático ou o bom profissional seja em que área for? Será que é isso que pedem os empregadores? Se o fazem é porque só olham para o dia de hoje e não têm visão de futuro, pois o que os empregadores com visão querem, mais do esta ou aquela e-tecnologia, é espírito crítico, trabalho em equipa, domínio de técnicas de comunicação, capacidade de gestão de projetos e, sobretudo, dinamismo e gosto pelo desafio. Talvez sejam estes, afinal, os requisitos que nunca mudam neste mundo cheio de mudança.