sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Armas de distração maciça


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 23 de Janeiro de 2014


As tecnologias da informação e comunicação (TIC) fazem de tal forma parte do nosso quotidiano que dificilmente poderíamos passar sem elas. Vivemos num mundo que, em determinadas perspetivas, se assemelha bastante ao que foi previsto por Mark D. Weiser (n. 1952, f. 1999), um cientista de computação americano, quando em 1988 vaticinou que se caminharia para uma sociedade de computação ubíqua, na qual as tecnologias estariam de tal forma embutidas em todos os aspetos do dia-a-dia que quase nos esqueceríamos delas.

As TIC são hoje em dia poderosas ferramentas,  essenciais para a economia mundial, já que potenciam um sem-fim de novos serviços, estão na base de incontáveis empresas e empregos,  e são indispensáveis para uma elevada produtividade. São, também, utilizadas em todas as infraestruturas críticas atuais, sejam elas de energia, transportes, telecomunicações, água, saúde, segurança ou defesa. E são, além disso, intensamente utilizadas por todos nós para comunicação, para interação social e para lazer.

Mas o que é certo é que estamos muito longe da visão de Mark Weiser pois, ao invés de as tecnologias serem um assistente ‘invisível’ e silencioso, que utilizaríamos como extensão do nosso corpo e mente e do qual nos esqueceríamos, o que acontece é que cada vez mais as tecnologias são visíveis, conspícuas, desviantes e intrusivas.

Assistimos a uma crescente dependência das tecnologias de informação e comunicação, com enormes implicações ao nível da sociedade em geral e de cada indivíduo em particular.

Por um lado, a exposição de infraestruturas críticas e de incontáveis sistemas de informação à Internet tem sido e continuará a ser explorada para ataques terroristas, para espionagem industrial, para violações de direitos e para a ciberguerra entre países. São facetas pouco conhecidas das TIC, pois tal não é do interesse nem de presumíveis atacantes nem das suas vítimas.

Por outro lado, a um nível mais pessoal, muitos desenvolveram já uma fobia a estar sem o seu smartphone , a não terem sinal de rede celular, a estarem sem ligação à Internet. Em paralelo, é comum a obsessão pelas redes sociais, o repetido e compulsivo impulso de acompanhar tudo e todos num mundo a transbordar de informação e de interações.

Por isso, já poucos conseguimos concentrarmo-nos mais do que alguns minutos seguidos em tarefas que deveriam receber a nossa melhor atenção. O mais grave é que, na maior parte das vezes, não somos diretamente interrompidos por outros mas sim por nós próprios, na ânsia de não perder algum assunto importante, de tudo acompanhar e de tudo saber.

Talvez seja esse o maior desafio que enfrentam os atuais educadores: ensinar as novas gerações a lidarem melhor com a tecnologia, por forma a que as TIC não se transformem definitivamente nas armas de distração maciça que são nos dias de hoje.