Artigo de opinião
publicado no diário ‘As Beiras’
em 23 de Janeiro
de 2014
As tecnologias da
informação e comunicação (TIC) fazem de tal forma parte do nosso quotidiano que
dificilmente poderíamos passar sem elas. Vivemos num mundo que, em determinadas
perspetivas, se assemelha bastante ao que foi previsto por Mark D. Weiser (n.
1952, f. 1999), um cientista de computação americano, quando em 1988 vaticinou
que se caminharia para uma sociedade de computação ubíqua, na qual as
tecnologias estariam de tal forma embutidas em todos os aspetos do dia-a-dia
que quase nos esqueceríamos delas.
As TIC são hoje em dia
poderosas ferramentas, essenciais para a
economia mundial, já que potenciam um sem-fim de novos serviços, estão na base
de incontáveis empresas e empregos, e
são indispensáveis para uma elevada produtividade. São, também, utilizadas em
todas as infraestruturas críticas atuais, sejam elas de energia, transportes,
telecomunicações, água, saúde, segurança ou defesa. E são, além disso,
intensamente utilizadas por todos nós para comunicação, para interação social e
para lazer.
Mas o que é certo é que estamos
muito longe da visão de Mark Weiser pois, ao invés de as tecnologias serem um
assistente ‘invisível’ e silencioso, que utilizaríamos como extensão do nosso
corpo e mente e do qual nos esqueceríamos, o que acontece é que cada vez mais
as tecnologias são visíveis, conspícuas, desviantes e intrusivas.
Assistimos a uma crescente
dependência das tecnologias de informação e comunicação, com enormes
implicações ao nível da sociedade em geral e de cada indivíduo em particular.
Por um lado, a exposição de
infraestruturas críticas e de incontáveis sistemas de informação à Internet tem
sido e continuará a ser explorada para ataques terroristas, para espionagem
industrial, para violações de direitos e para a ciberguerra entre países. São
facetas pouco conhecidas das TIC, pois tal não é do interesse nem de
presumíveis atacantes nem das suas vítimas.
Por outro lado, a um nível
mais pessoal, muitos desenvolveram já uma fobia a estar sem o seu smartphone ,
a não terem sinal de rede celular, a estarem sem ligação à Internet. Em
paralelo, é comum a obsessão pelas redes sociais, o repetido e compulsivo
impulso de acompanhar tudo e todos num mundo a transbordar de informação e de
interações.
Por isso, já poucos
conseguimos concentrarmo-nos mais do que alguns minutos seguidos em tarefas que
deveriam receber a nossa melhor atenção. O mais grave é que, na maior parte das
vezes, não somos diretamente interrompidos por outros mas sim por nós próprios,
na ânsia de não perder algum assunto importante, de tudo acompanhar e de tudo
saber.
Talvez seja esse o maior
desafio que enfrentam os atuais educadores: ensinar as novas gerações a lidarem
melhor com a tecnologia, por forma a que as TIC não se transformem
definitivamente nas armas de distração maciça que são nos dias de hoje.