quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Virtual ou imaginário?


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 13 de Dezembro de 2010


Com o Natal a um passo é inevitável pensar em prendas, quer para dar quer para receber, quer para crianças quer para adultos. Consumismos à parte – que, em boa medida, nos levam a esquecer o significado da quadra – dar e receber prendas é algo que faz bem ao ego de cada um e, para além disso, faz bem à economia.

Na azáfama do dia-a-dia, muitas vezes nos perguntamos que prenda escolher. De entre as prendas possíveis, as prendas tecnológicas são sempre uma apetecível e popular opção. A massificação das tecnologias da informação e comunicação (TIC) e da Internet, ocorrida nos últimos trinta anos, mudou não só a forma como se trabalha mas, também, a forma como se desfruta de momentos de lazer e como se brinca.

A brincar, a brincar, a indústria de jogos – que, actualmente, recorre intensamente às TIC – movimenta verbas gigantescas no mundo inteiro, sendo uma das mais fortes indústrias do planeta. Os jogos são, de facto, um dos principais motores para o desenvolvimento das tecnologias, exigindo grandes capacidades de processamento, apurada engenharia de software, sofisticadas interfaces gráficas, recurso a técnicas de realidade virtual e realidade aumentada e, ainda, comunicação em alta velocidade. As actuais consolas de jogos – cada vez mais elaboradas e imersivas – têm capacidades de processamento equivalentes às que existiam em super-computadores de há 15 ou 20 anos atrás e incontáveis vezes mais capacidade de processamento do que os computadores usados na missão da Apolo 11 à Lua, em 1969.

É, no entanto, curioso verificar que a publicidade a muitas dessas consolas é dirigida mais aos adultos do que às crianças. Talvez isso se deva ao facto de o seu custo ser tão elevado que o fabricante tente justificá-lo convencendo os adultos de que o equipamento pode ser utilizado por todos e não apenas pelos mais pequenos. É, certamente, por essa razão que em muitos dos jogos se ganha pontos por cada adversário que se elimina, por cada obstáculo que se destrói ou por cada infracção de trânsito que se comete, privilegiando-se o que é virtual, ou seja, dando-se preferência ao que afasta o adulto da dura e banal realidade.

Esquecemo-nos – pais, familiares e educadores – que para as crianças são necessários e preferíveis os brinquedos e jogos que estimulam a imaginação, pois são esses que exercitam e desenvolvem as suas capacidades intelectuais, e satisfazem a sua ânsia de entender melhor o mundo que as rodeia, ao contrário dos que lhe apresentam um mundo virtual, já construído e que pouco interessa conhecer.

A diferença entre o virtual e o imaginário é a diferença entre a visita a um parque de diversões on-line e a visita a um parque de diversões real. A primeira torna-se rapidamente aborrecida, enquanto que a segunda estimula todos os sentidos e emoções, podendo ficar marcada na memória de todos – graúdos e miúdos – para toda a vida.