quinta-feira, 25 de abril de 2013

Muitos anos a virar frangos


Nunca como hoje tivemos acesso a informação e conhecimento de forma tão fácil e rápida. A Internet e os motores de pesquisa são utilizados como um oráculo que para tudo tem resposta e solução, tantas vezes incompleta, incorreta e distorcida, embora poucas vezes questionada.

Curiosamente, o quase imediato acesso à informação potenciado pelas tecnologias da informação e comunicação (TIC) tem efeitos contraditórios. Por um lado, propicia um sem número de oportunidades, já que informação é, em muitos casos, sinónimo de controlo, poder, dinheiro e/ou reconhecimento. O que seria da atual sociedade sem o acesso generalizado à informação que agora a caracteriza? Quantas empresas iriam à falência? Quantos empregos se perderiam? Certamente, a impossibilidade generalizada de acesso a meios informáticos geraria um colapso da economia à escala global.

No entanto, a permanente disponibilidade de acesso a vastas quantidades de informação tem o curioso efeito de isolar as pessoas no seu mundo. É tanta a informação que a tendência de muitos profissionais é a de se concentrarem e especializarem apenas naquela que lhes diz diretamente respeito.

Naturalmente que qualquer profissional deve conhecer a fundo a sua área, dominar perfeitamente as ferramentas que utiliza, ser um especialista. Já Luís de Camões reconheceu na sua obra mor o valor do “saber de experiência feito”, frase que a sabedoria popular traduziu na expressão tantas vezes ouvida “são muitos anos a virar frangos”.

A questão é que “muitos anos a virar frangos” – ou, o que é o mesmo, muitos anos a fazer sempre o mesmo, quantas vezes com o nariz colado ao ecrã de um computador – limitam fortemente a visão que se tem da realidade. É para evitar isso que cada vez mais as empresas incentivam os seus colaboradores – e, em especial, os seus gestores e/ou líderes – a dedicarem algum do seu tempo a conhecer outras áreas e outros mundos.

A leitura é, claro, uma das formas mais eficazes de o fazer, já que, para além de excelente exercício mental, permite alargar horizontes, entender reações e contextos, perceber motivações técnicas, sociais e políticas. Para além disso, é fortemente estimuladora da imaginação e da criatividade. Não é, por isso, surpreendente constatar que os melhores líderes são os que mais leem e mais cultura têm.

O mundo seria claramente melhor se se lesse mais, a começar pelos alunos, passando pelos profissionais, e não esquecendo os políticos (cujas visões limitadas tantas vezes nos surpreendem e revoltam). E se para os mais viciados ou fanáticos das TIC um livro é um objeto obsoleto e arcaico, então que leiam e-books. O que interessa é que leiam, que abram horizontes, e que percebam que existem muitas outras coisas para além de “virar frangos”.