Artigo de opinião
publicado no diário ‘As Beiras’
em 26 de Outubro
de 2012
Todos reconhecemos que as
tecnologias da informação e comunicação (TIC) são essenciais para o
desenvolvimento e para a economia. Ao possibilitarem o acesso ao conhecimento e
a fácil comunicação entre pessoas, as TIC potenciam todo o tipo de atividades e
serviços. Se, de um momento para o outro, as TIC deixassem de estar
disponíveis, a civilização não recuaria apenas algumas décadas mas sim duzentos
anos, dado o impacto negativo de tal acontecimento.
Mas não é só para a
economia que as TIC são essenciais. São-no, cada vez mais, para a cidadania,
para a democracia e para a liberdade. Estudos recentes de natureza sociológica
apontam claramente para o facto de que a utilização das TIC reduz a corrupção e
tem um impacto positivo na qualidade das democracias.
Com efeito, o acesso
generalizado à informação aumenta consideravelmente as possibilidades de
detecção de atos de corrupção e esse facto é, em si mesmo, o principal fator
inibidor da própria corrupção. Sem
informação não há controlo nem investigação, peças essenciais para o combate à
corrupção.
Por outro lado, informação
e conhecimento sempre foram sinónimo de poder. Não é à toa que governos de
países não democráticos impedem o trabalho dos media, condicionam as
comunicações e cortam o acesso à Internet em situações de crise. Quem controla
a informação detém o poder. Foi e será sempre assim, e todos nos lembramos da
recente primavera árabe e do papel que as TIC, como instrumento de comunicação
e sensibilização à escala global, desempenharam.
Com as TIC, o poder da
informação passa a estar descentralizado e acessível a todos. Todos podem
partilhar e gerar informação. Poder e influência são democratizados. E se isto
é verdade para os países menos democráticos, não o é menos para a mais
democrática das nações, seja ela qual for.
A verdade é que as
TIC, ao suportarem serviços como blogues
e redes sociais, têm um potencial gigantesco nas transformações políticas. Inicialmente
vistos como curiosidades, blogues e redes sociais são agora encarados como
ferramentas cruciais para políticos e decisores, transformando o jogo e
panorama políticos à escala global.
É certo que as TIC não
passam de um instrumento. É até bom que não passem disso e não se subverta a
sociedade – como por vezes parece querer fazer-se – por forma a que sejam as
pessoas a subjugar-se aos ditames desta ou daquela tecnologia posta ao serviço
de uma sociedade cada vez mais processual e menos substancial, e não o
contrário.
Não se pode negar, no
entanto, que as TIC são um instrumento poderosíssimo e uma defesa para todos os
cidadãos. As TIC reduzem a assimetria de informação entre cidadãos e governos,
possibilitando que aqueles se façam ouvir. Nunca como agora o poder pertenceu
tanto ao povo.