quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Pessoas ou objetos?


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 15 de Outubro de 2012


A tecnologia RFID (radio frequency identification) tem já alguns anos, sendo bastante madura. Esta tecnologia permite ler informação armazenada numa etiqueta, sem necessidade de contacto entre a etiqueta e o leitor, que podem estar distanciados até vários metros. Existem algumas variantes de RFID, podendo as etiquetas dispor de bateria ou não. Neste último caso, as etiquetas funcionam com a própria energia electromagnética emitida pelo leitor.

Todos conhecemos várias aplicações da RFID, desde o pagamento automático de portagens aos chamados microchips implantados em animais de estimação, passando pelos dispositivos antirroubo largamente utilizados no comércio. Basicamente, esta tecnologia permite que objetos ou entidades sejam identificados de forma electrónica, o que pode ser utilizado para uma série de ações subsequentes.

Por exemplo, com esta tecnologia pode identificar-se individualmente cada bovino de uma exploração e, por detecção da sua presença junto de um posto de alimentação, saber se comeu, quando comeu e/ou quanto comeu.

É claro que a tecnologia RFID não fornece esses dados só por si, tendo que ser conjugada com outras tecnologias de informação e comunicação (TIC) como, por exemplo, bases de dados ou sistemas de informação.

Uma das áreas de aplicação emergente desta tecnologia é a da localização. Devido ao diminuto tamanho da etiquetas RFID, estas podem ser colocadas em qualquer dispositivo ou objeto. Por exemplo, podem ser colocadas num portátil, num telemóvel, numa peça de roupa, numa mochila ou num livro. Também podem ser injetadas em animais e há quem defenda a sua utilização também em pessoas.

Aplicações para acompanhamento de pessoas idosas em lares ou para monitorização de doentes dentro de unidades hospitalares são cada vez mais referidas na literatura. Também há projetos para utilização de RFID no controlo de alunos dentro das instituições de ensino, permitindo determinar, entre outras coisas, a sua presença nas aulas, informação essa que seria disponibilizada em tempo real não só à direção da escola como aos respetivos encarregados de educação.

É claro que todas as aplicações envolvendo pessoas são extremamente delicadas, porque interferem com a sua liberdade e privacidade. Com a tecnologia atualmente disponível poder-se-ia facilmente controlar o que se faz e onde se está. Muitos alegarão que esse controlo deve ser feito e que só será feito por motivos de segurança de todos e, inclusivamente, de cada pessoa.

Não me parece, no entanto, que a utilização das TIC para esses fins seja benéfica. Independentemente de a tecnologia permitir esta ou aquela aplicação, há algo que sempre se deve sobrepor a tudo: a dignidade dos cidadãos, que não podem, em caso algum, ser tratados como objetos.

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