quinta-feira, 26 de abril de 2012

Racionalizar a racionalização


 
Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 24 de Abril de 2012


Em Portugal, as universidades e politécnicos dos dias de hoje são muito diferentes daquilo que eram há alguns anos. Cada vez mais as instituições de ensino superior interagem com a sociedade envolvente, sendo parceiros ativos – e, frequentemente, motores – no desenvolvimento em variadíssimas áreas da ciência e da tecnologia.

A área das tecnologias da informação e comunicação (TIC) é, claramente, uma daquelas em que o contributo das instituições de ensino superior tem sido de realçar. Muitas são as empresas de spin-off originadas nas nossas universidades e politécnicos, com forte atividade exportadora e grande visibilidade a nível nacional e internacional. Vários são os casos de incubadoras de empresas muito bem sucedidas. Todas são alvo frequente de atenção dos media, contribuindo para o orgulho nacional.

Se esse é o caso, isso em muito se deve à excelência da investigação científica e desenvolvimento tecnológico efetuados em várias das nossas escolas superiores. Naturalmente que essa investigação e desenvolvimento (I&D) em TIC se faz com meios humanos competentes, mas tal não seria possível se não existisse um ambiente tecnológico capaz de a sustentar.

Falo aqui não só de laboratórios de I&D com sofisticadas ferramentas de hardware e software, mas também de todo um ambiente de produção, composto por infraestruturas de comunicação utilizando as mais avançadas tecnologias, centros de dados de média ou grande dimensão, serviços e sistemas de informação de elevada sofisticação, complexidade e abrangência.

Este ambiente de produção, de enorme exigência pois tem que prestar serviços 24 horas por dia, 7 dias por semana, a comunidades que podem atingir dezenas de milhares de utilizadores, não é apenas utilizado para suporte da atividade académica e administrativa. É um ambiente essencial para as atividades de I&D e para a obtenção do know-how que não existe em mais parte nenhuma da nossa sociedade.

É por isso que a iniciativa de racionalização das TIC na Administração Pública não pode ser aplicada às instituições de ensino superior como se estas fossem meras repartições ou ministérios. Quem o pretende fazer não faz a mínima ideia do que é uma universidade ou politécnico, da importância que estas escolas têm na investigação e na formação de cientistas, engenheiros e outros profissionais e, por conseguinte, de quão essenciais são para o nosso país.

Agora todos reconhecem que as TIC na Administração Pública necessitam de racionalização. Os mais néscios pensam que essa racionalização deve incluir as instituições de ensino superior. Talvez se as tivessem ouvido há mais tempo não se tivessem cometido tantos erros e não fosse agora necessário fazer uma racionalização que, no caso em apreço, tem muito de irracional.

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