terça-feira, 1 de maio de 2012

O desafio dos dados


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 30 de Abril de 2012


Nota-se, na sociedade atual, uma obsessão pelos dados e pela informação. Bases de dados de todo o tipo são criadas, sofregamente mantidas e engordadas, inexoravelmente interligadas e relacionadas, por receio de que à faminta máquina da sociedade falte o alimento dos dados.

Paradoxalmente, processos administrativos anteriormente simples tornam-se –  aproveitando as possibilidades abertas pelas tecnologias da informação e comunicação (TIC) – burocraticamente muito mais pesados, ávidos de informação e de completude processual. A simplificação sucumbe, então, ao enraizado desejo de controlo, levado ao extremo pelo extraordinário poder das TIC.

É claro que, nos dias que correm, nenhum país ou comunidade pode sobreviver sem extensas quantidades de informação. Não falamos apenas de entidades estatais mas, também, de todo o tipo de entidades. Não é por acaso que a chamada mineração de dados é uma das áreas mais importantes dos modernos sistemas de informação, permitindo identificar gostos de utilizadores, tendências de mercado e comportamentos sociais. Neste sentido, a corrida aos dados ultrapassa em muito, em termos de importância, intensidade e valor, qualquer corrida ao ouro registada no passado.

A mineração de dados permite, por exemplo, identificar padrões e associações complexos, não visíveis quando os itens de dados são olhados individualmente. A mineração de dados permite ver muito para além dos dados, extraindo informação e gerando conhecimento, que podem ter um elevadíssimo valor financeiro, económico e social.

A extração de informação e conhecimento pode ser feita a partir de uma enorme variedade de fontes de dados, incluindo registos de vendas, textos de mensagens de correio electrónico, ficheiros áudio ou vídeo, ou registos de navegação na Web. Naturalmente, porque hoje em dia quase tudo passa pela Internet e porque esta atividade é, de uma forma ou de outra, sempre registada, é essa a principal fonte de dados.

Ao longo da história da Humanidade sempre funcionámos com base em informação. No entanto, a visão global e abrangente fornecida pela conjugação das TIC com a mineração de dados é o fator que a distingue em relação a tudo o foi feito no passado e que a torna numa arma poderosa que, como qualquer arma, pode ser utilizada para o bem e para o mal.

Muitas são as questões de privacidade e de liberdade que se levantam nesta matéria. Para além destas, que são óbvias, há um desafio menos óbvio e tantas vezes escamoteado, que não deixa de ser da máxima importância: o de não esquecer que por detrás dos dados estão as pessoas e que é para a melhoria da sua qualidade de vida e da sociedade em geral que quer os dados quer a sua mineração devem ser utilizados. Será que estaremos à altura deste desafio?

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