Artigo de opinião
publicado no diário ‘As Beiras’
em 30 de Abril de
2012
Nota-se, na sociedade
atual, uma obsessão pelos dados e pela informação. Bases de dados de todo o
tipo são criadas, sofregamente mantidas e engordadas, inexoravelmente
interligadas e relacionadas, por receio de que à faminta máquina da sociedade
falte o alimento dos dados.
Paradoxalmente, processos
administrativos anteriormente simples tornam-se – aproveitando as possibilidades abertas pelas
tecnologias da informação e comunicação (TIC) – burocraticamente muito mais
pesados, ávidos de informação e de completude processual. A simplificação
sucumbe, então, ao enraizado desejo de controlo, levado ao extremo pelo
extraordinário poder das TIC.
É claro que, nos dias que
correm, nenhum país ou comunidade pode sobreviver sem extensas quantidades de
informação. Não falamos apenas de entidades estatais mas, também, de todo o
tipo de entidades. Não é por acaso que a chamada mineração de dados é uma das
áreas mais importantes dos modernos sistemas de informação, permitindo
identificar gostos de utilizadores, tendências de mercado e comportamentos
sociais. Neste sentido, a corrida aos dados ultrapassa em muito, em termos de
importância, intensidade e valor, qualquer corrida ao ouro registada no
passado.
A mineração de dados
permite, por exemplo, identificar padrões e associações complexos, não visíveis
quando os itens de dados são olhados individualmente. A mineração de dados
permite ver muito para além dos dados, extraindo informação e gerando
conhecimento, que podem ter um elevadíssimo valor financeiro, económico e
social.
A extração de informação e
conhecimento pode ser feita a partir de uma enorme variedade de fontes de
dados, incluindo registos de vendas, textos de mensagens de correio
electrónico, ficheiros áudio ou vídeo, ou registos de navegação na Web. Naturalmente,
porque hoje em dia quase tudo passa pela Internet e porque esta atividade é, de
uma forma ou de outra, sempre registada, é essa a principal fonte de dados.
Ao longo da história da
Humanidade sempre funcionámos com base em informação. No entanto, a visão
global e abrangente fornecida pela conjugação das TIC com a mineração de dados
é o fator que a distingue em relação a tudo o foi feito no passado e que a
torna numa arma poderosa que, como qualquer arma, pode ser utilizada para o bem
e para o mal.
Muitas são as questões de
privacidade e de liberdade que se levantam nesta matéria. Para além destas, que
são óbvias, há um desafio menos óbvio e tantas vezes escamoteado, que não deixa
de ser da máxima importância: o de não esquecer que por detrás dos dados estão
as pessoas e que é para a melhoria da sua qualidade de vida e da sociedade em
geral que quer os dados quer a sua mineração devem ser utilizados. Será que
estaremos à altura deste desafio?
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