Artigo de opinião
publicado no diário ‘As Beiras’
em 5 de Maio de
2012
Vivemos num mundo governado
pelo imediatismo e, por conseguinte, pela pressão de atingir sucesso
instantâneo e resultados no mais breve espaço de tempo possível. Infelizmente,
esta tendência é visível em todas as áreas de atividade e até em políticas e
estratégias, onde, para além do imediato, se deveria pensar nos médio e longo
prazos.
A febre dos objetivos,
indicadores e resultados também se tem aplicado – em demasia, na minha modesta
opinião – à ciência e à tecnologia. Esquecem-se os muitas vezes autoapelidados
especialistas da inovação e empreendedorismo que não existe forma de determinar
a priori o impacto de um dado avanço
científico ou tecnológico, e que tal impacto poderá demorar anos ou décadas a
sentir-se. Ao pensar-se apenas em termos de curto prazo, cria-se um caminho
errático que pode não conduzir a lado nenhum, algo a que, infelizmente, nos
temos vindo a habituar nas últimas décadas.
É certo que, como disse o notável
físico dinamarquês Niels Bohr, "as previsões são sempre muito difíceis,
especialmente se dizem respeito ao futuro" (frase esta também atribuída a
muitas outras personalidades, incluindo o escritor americano Mark Twain) ou,
como disse um notável treinador português quando inquirido sobre as suas
previsões para o resultado de um clássico de futebol, "prognósticos só
depois do jogo".
Nada é mais certo. São
inúmeros os casos em que avanços científicos e/ou tecnológicos só tiveram
aplicação ou reconhecimento décadas ou séculos depois de terem sido
desenvolvidos. Alguns deles estão na base do funcionamento de coisas tão
essenciais nos nossos dias como os computadores, a Internet ou as comunicações
móveis, que agora movimentam quantidades incalculáveis de dinheiro em todos os
países do globo.
Tomemos como exemplo, entre
os muitos possíveis, a invenção dos transmissores rádio por Guglielmo Marchese
Marconi (1874-1937), um engenhoso italiano que falhou a entrada na Academia
Naval Italiana e na Universidade de Bolonha. Poucos acreditaram no potencial da
sua invenção, realizada em 1896 e que permitiu, pela primeira vez, a transmissão
sem fios a 2.4 Km de distância.
É claro que nessa época
existiam já o telégrafo e o telefone elétricos, com fios, que eram utilizados
em escala relativamente larga e que serviam as necessidades dos seus
utilizadores, desde simples cidadãos a governos, passando por destacados homens
de negócios.
Felizmente que, também no
caso da transmissão rádio, alguns – poucos, como sempre – reconheceram o potencial do invento, e
decidiram apoiá-lo e investir, apesar de saberem que só no médio ou longo prazo
os benefícios seriam visíveis. Mas quantos não terão tido tanta sorte, e
quantos inventos e avanços terão ficado adiados ou esquecidos ao longo da
história da Humanidade?
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