Artigo de opinião
publicado no diário ‘As Beiras’
em 15 de Maio de
2012
Talvez uma das tarefas mais
árduas que se possa empreender num mundo dominado pela tecnologia e pela
complexidade das ferramentas seja pegar numa necessidade, numa ideia ou num
processo e transformá-los em algo revolucionariamente simples.
Agora que já passou algum
tempo desde o desaparecimento de Steve Jobs, talvez já exista o distanciamento
suficiente para reconhecer, sem o desmedido endeusamento e mistificação que a
mediatização acarreta, que esse foi um dos seus principais trunfos e, também, a
sua grande lição.
Felizmente que – apesar do
que se poderia julgar pelo alarido – Steve Jobs não foi e não será o único
visionário e empreendedor bem sucedido. A História está cheia de pessoas que
não se deixaram vencer pelos desafios e souberam ver muito para além da
tecnologia e conhecimento disponíveis no momento em que viveram.
É certo que as tecnologias
da informação e comunicação (TIC) nos abrem agora vastas possibilidades em
termos de inovação e melhoria, mas os desafios de conceber sistemas e/ou
processos melhores não diminui por isso.
Dirão uns que os processos
devem ser adaptados às novas tecnologias. Outros argumentarão que, por outro
lado, deve a tecnologia ser utilizada para modelar os processos, adaptando-se a
eles. Outros, ainda, defenderão que devem ser os utilizadores a dizer o que
pretendem. E, claro, os técnicos dirão que quem domina a tecnologia é que está
em melhor posição para tomar decisões de implementação acertadas. Nenhuns têm
razão!
Modelar um processo à luz
de uma determinada tecnologia é condená-lo aos defeitos e limitações desta
última. Utilizar uma tecnologia para reproduzir um processo ou procedimento tal
como era executado antes dela é perpetuar os seus defeitos e ineficiências.
Por outro lado, deixar
decisões de implementação a quem domina a tecnologia é o mesmo que acreditar
que pessoas de uma dada área tecnológica tenham, por artes mágicas, uma visão
esclarecida sobre todas as outras áreas, o que é totalmente irrealista. E
quanto aos utilizadores, quantas vezes sabem verdadeiramente o que querem antes
de o verem? Henry Ford, o inventor dos automóveis, disse um dia que se tivesse
perguntado às pessoas o que queriam elas ter-lhe-iam dito que queriam cavalos
mais rápidos. Nunca lhe teriam dito que precisavam de carruagens sem cavalos.
Desenvolver bons produtos,
serviços ou soluções é, pois, muito mais complexo do que pode parecer à
primeira vista. Umas vezes as tecnologias ajudam. Outras, atrapalham. Uma coisa
é certa: a aparente simplicidade das soluções que vingam tem sempre por trás um
aturado trabalho de estudo e análise. Atingir
o sucesso é algo que todos gostaríamos e que devemos tentar, mas é também uma
árdua tarefa que nem todos conseguem ou estão dispostos a empreender.
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