quinta-feira, 17 de maio de 2012

Uma árdua tarefa


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 15 de Maio de 2012


Talvez uma das tarefas mais árduas que se possa empreender num mundo dominado pela tecnologia e pela complexidade das ferramentas seja pegar numa necessidade, numa ideia ou num processo e transformá-los em algo revolucionariamente simples.

Agora que já passou algum tempo desde o desaparecimento de Steve Jobs, talvez já exista o distanciamento suficiente para reconhecer, sem o desmedido endeusamento e mistificação que a mediatização acarreta, que esse foi um dos seus principais trunfos e, também, a sua grande lição.

Felizmente que – apesar do que se poderia julgar pelo alarido – Steve Jobs não foi e não será o único visionário e empreendedor bem sucedido. A História está cheia de pessoas que não se deixaram vencer pelos desafios e souberam ver muito para além da tecnologia e conhecimento disponíveis no momento em que viveram.

É certo que as tecnologias da informação e comunicação (TIC) nos abrem agora vastas possibilidades em termos de inovação e melhoria, mas os desafios de conceber sistemas e/ou processos melhores não diminui por isso.

Dirão uns que os processos devem ser adaptados às novas tecnologias. Outros argumentarão que, por outro lado, deve a tecnologia ser utilizada para modelar os processos, adaptando-se a eles. Outros, ainda, defenderão que devem ser os utilizadores a dizer o que pretendem. E, claro, os técnicos dirão que quem domina a tecnologia é que está em melhor posição para tomar decisões de implementação acertadas. Nenhuns têm razão!

Modelar um processo à luz de uma determinada tecnologia é condená-lo aos defeitos e limitações desta última. Utilizar uma tecnologia para reproduzir um processo ou procedimento tal como era executado antes dela é perpetuar os seus defeitos e ineficiências.

Por outro lado, deixar decisões de implementação a quem domina a tecnologia é o mesmo que acreditar que pessoas de uma dada área tecnológica tenham, por artes mágicas, uma visão esclarecida sobre todas as outras áreas, o que é totalmente irrealista. E quanto aos utilizadores, quantas vezes sabem verdadeiramente o que querem antes de o verem? Henry Ford, o inventor dos automóveis, disse um dia que se tivesse perguntado às pessoas o que queriam elas ter-lhe-iam dito que queriam cavalos mais rápidos. Nunca lhe teriam dito que precisavam de carruagens sem cavalos.

Desenvolver bons produtos, serviços ou soluções é, pois, muito mais complexo do que pode parecer à primeira vista. Umas vezes as tecnologias ajudam. Outras, atrapalham. Uma coisa é certa: a aparente simplicidade das soluções que vingam tem sempre por trás um aturado trabalho de estudo e análise.  Atingir o sucesso é algo que todos gostaríamos e que devemos tentar, mas é também uma árdua tarefa que nem todos conseguem ou estão dispostos a empreender.

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