Artigo de opinião
publicado no diário ‘As Beiras’
em 10 de Setembro
de 2012
O conceito de aldeia global
– que parece estar outra vez na moda – tem já meio século de existência e
refere-se à contração virtual do mundo, das suas economias, das suas culturas e
das formas de pensar, provocada pela facilidade de deslocação e de comunicação.
Todos estamos em contacto uns com os outros, todos dependemos de todos e, por
isso, mais do que nunca, nos parece que o mundo é uma pequena aldeia.
É claro que para isso muito
contribuem as tecnologias da informação e comunicação (TIC), fixas ou móveis,
já que aproximam as pessoas – ainda que estas estejam separadas por meio mundo
– e fazem chegar a qualquer lado informação, opiniões, denúncias e apelos. Que
as TIC potenciam uma consciencialização global e que são, por isso, uma
ferramenta explorada e temida por governos, governantes e opositores, não
existe dúvida.
No entanto, analisando bem o
mundo em que vivemos, rapidamente se chega à conclusão de que o conceito de
aldeia global não passa disso mesmo, um idealismo, algo que não tem
correspondência com a realidade, quiçá um mero instrumento de marketing.
Não existe aldeia global e
ainda bem que assim é. Mais ainda, felizmente que as TIC – que muitos encaram
como a base dessa inexistente aldeia global – nos mostram que somos um mundo
feito de diferentes culturas e costumes, diferentes línguas, diferentes
histórias e diferentes nações, já que é nessa variedade que está a riqueza dos
povos e é nessa diversidade que devemos alicerçar o respeito pela diferença.
É certo que as TIC mudaram
profundamente – e continuarão a mudar – o mundo que nos rodeia mas, apesar
disso, é curioso verificar que por muitos avanços tecnológicos, por muita
civilização, continuamos a guiar-nos pelos mesmos impulsos contraditórios de
tribalismo e individualismo que sempre estiveram subjacentes à evolução da
nossa espécie. Se, por um lado, cultivamos o individualismo, a personalização e
a diferença, por outro alicerçamos muito do nosso equilíbrio em formas de
pertença a grupos.
Daí que o conceito de
aldeia global seja, simultaneamente apelativo e repugnante. Apelativo, porque
potenciador do espírito de pertença. Repugnante, porque redutor da diferença,
da identidade dos grupos e de cada um.
Mas não nos deixemos levar
por conceitos ou chavões de pouca ou nenhuma validade. Uma coisa é certa: independentemente
da duvidosa utilidade do conceito de aldeia global, são as próprias TIC que nos
permitem perceber que o mundo não é uma aldeia, mas sim que cada região, cada
cultura, cada aldeia é, em si mesma, um mundo. Resta-nos agora, utilizar as TIC
para melhor explorar e projetar o pequeno grande mundo que existe em cada
aldeia. Se o soubermos fazer, ninguém mais falará em aldeia global e o mundo só
terá a ganhar com isso.
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