terça-feira, 11 de setembro de 2012

A aldeia global


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 10 de Setembro de 2012


O conceito de aldeia global – que parece estar outra vez na moda – tem já meio século de existência e refere-se à contração virtual do mundo, das suas economias, das suas culturas e das formas de pensar, provocada pela facilidade de deslocação e de comunicação. Todos estamos em contacto uns com os outros, todos dependemos de todos e, por isso, mais do que nunca, nos parece que o mundo é uma pequena aldeia.

É claro que para isso muito contribuem as tecnologias da informação e comunicação (TIC), fixas ou móveis, já que aproximam as pessoas – ainda que estas estejam separadas por meio mundo – e fazem chegar a qualquer lado informação, opiniões, denúncias e apelos. Que as TIC potenciam uma consciencialização global e que são, por isso, uma ferramenta explorada e temida por governos, governantes e opositores, não existe dúvida.

No entanto, analisando bem o mundo em que vivemos, rapidamente se chega à conclusão de que o conceito de aldeia global não passa disso mesmo, um idealismo, algo que não tem correspondência com a realidade, quiçá um mero instrumento de marketing.

Não existe aldeia global e ainda bem que assim é. Mais ainda, felizmente que as TIC – que muitos encaram como a base dessa inexistente aldeia global – nos mostram que somos um mundo feito de diferentes culturas e costumes, diferentes línguas, diferentes histórias e diferentes nações, já que é nessa variedade que está a riqueza dos povos e é nessa diversidade que devemos alicerçar o respeito pela diferença.

É certo que as TIC mudaram profundamente – e continuarão a mudar – o mundo que nos rodeia mas, apesar disso, é curioso verificar que por muitos avanços tecnológicos, por muita civilização, continuamos a guiar-nos pelos mesmos impulsos contraditórios de tribalismo e individualismo que sempre estiveram subjacentes à evolução da nossa espécie. Se, por um lado, cultivamos o individualismo, a personalização e a diferença, por outro alicerçamos muito do nosso equilíbrio em formas de pertença a grupos.

Daí que o conceito de aldeia global seja, simultaneamente apelativo e repugnante. Apelativo, porque potenciador do espírito de pertença. Repugnante, porque redutor da diferença, da identidade dos grupos e de cada um.

Mas não nos deixemos levar por conceitos ou chavões de pouca ou nenhuma validade. Uma coisa é certa: independentemente da duvidosa utilidade do conceito de aldeia global, são as próprias TIC que nos permitem perceber que o mundo não é uma aldeia, mas sim que cada região, cada cultura, cada aldeia é, em si mesma, um mundo. Resta-nos agora, utilizar as TIC para melhor explorar e projetar o pequeno grande mundo que existe em cada aldeia. Se o soubermos fazer, ninguém mais falará em aldeia global e o mundo só terá a ganhar com isso.

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