Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 3 de Setembro
de 2012
Muitos dos avanços
tecnológicos foram impulsionados por motivações militares, quer de natureza
ofensiva quer defensiva. Um dos exemplos mais marcantes é o da própria
Internet, cuja origem, na década de 1960, está ligada ao Departamento de Defesa
dos Estados Unidos da América (EUA).
Muita água passou debaixo
das pontes desde os primórdios da Internet, de tal modo que parece que vivemos
já num outro planeta. A Internet e as tecnologias da informação e comunicação
(TIC) mudaram o mundo, não pela via militar mas sim por via da sociedade civil,
de tal forma que hoje é impossível viver sem as TIC.
Não deixa, no entanto, de
haver alguma ironia do destino no facto de as TIC serem agora encaradas como
uma das mais temidas armas no nosso planeta. Alguns leitores pensarão, neste
ponto, que esta é uma afirmação com um elevado grau de exagero, mas uma análise
um pouco mais detalhada será suficiente para mostrar que assim não é.
As TIC são essenciais para
todas as áreas da atividade, desde a agricultura ao comércio, passando por todo
o tipo de indústrias. Para um número incontável de empresas e entidades o
ataque mais temido é um ataque aos seus sistemas informáticos, à sua
informação, já que tal ataque as poderia tornar inoperacionais. A ligação em
rede é essencial para essas empresas, mas é também a principal fonte de
preocupação. Por isso se investe cada vez mais em segurança informática.
No entanto, a ameaça
informática subiu recentemente para um outro nível. As TIC podem agora ser – e
são-no, de facto – utilizadas por países para a chamada ciberguerra, quer em
termos defensivos quer em termos ofensivos. A partir do momento em que se percebeu
que um ataque cibernético pode por em causa infraestruturas críticas como redes
de água, redes de eletricidade, redes de gás e redes de telecomunicações, as
TIC passaram a ser de enorme importância para a segurança dos países.
A prova de que o perigo é
real é o facto de os EUA e a Rússia estarem em negociações para o
estabelecimento de uma linha de comunicação segura – e respetivas formas de
funcionamento e utilização – para prevenir a ameaça de ciberguerra entre os
dois países, à semelhança do famoso telefone vermelho criado em 1963, em plena
guerra fria, para ligação direta entre a Casa Branca e o Kremlin. Conversações
semelhantes decorrem, também, entre os EUA e a China.
A troca de informação entre
estes países poderá evitar que, em presença de ciber-ataques não identificados,
haja uma escalada de violência cibernética ou mesmo bélica, de consequências
imprevisíveis.
Já ninguém parece duvidar
de que as TIC são uma arma temível, no verdadeiro e literal sentido do termo.
Neste contexto, importa perguntar: e nós, aqui neste cantinho à beira-mar
plantado, estaremos preparados?
Sem comentários:
Enviar um comentário