Artigo de opinião
publicado no diário ‘As Beiras’
em de 6 de Novembro
de 2012
Há pouco tempo, enquanto
esperava por um avião num qualquer aeroporto da Europa, um colega de viagem
tentava convencer-me das maravilhas de duas aplicações que utilizava
frequentemente no seu telemóvel: uma indicava-lhe a refeição que deveria tomar,
tendo em atenção o que tinha comido recentemente; a outra, alertava-o para o
caso de estar a comprar produtos dos quais não tinha necessidade. Eu, na minha
ingenuidade de tecnólogo crítico de certas aplicações, bem tentava explicar-lhe
os inconvenientes, mas falhei redondamente.
O que é certo é que, quase
sem nos apercebermos disso, estamos, cada vez mais, dependentes das tecnologias
da informação e comunicação (TIC). Nos nossos automóveis, sistemas de
posicionamento global falam connosco e dizem-nos como chegar ao destino
pretendido, sem sobressaltos, enganos ou aventuras. Cada vez mais cedo as crianças adquirem
dependência em relação aos “smartphones”, que assumem um papel essencial não só
na sua vida, mas também na vida de muitos de nós.
A tendência atual dos
“smartphones” é a de se tornarem assistentes pessoais. De facto, alguns modelos
já exploram essa funcionalidade, permitindo que falemos para eles, lhes façamos
perguntas e demos ordens em linguagem natural, prontamente respondidas ou
executadas, sem hesitações ou queixas.
De facto, um “smartphone”
dos nossos dias é já muito mais “smart” (esperto) do que “phone” (telefone).
Num futuro próximo, estes dispositivos serão utilizados para praticamente tudo,
recolhendo informação do ambiente e de nós próprios.
Assim, usando sensores
apropriados, poderão recolher informações sobre pressão arterial, ritmo
cardíaco, análises sanguíneas, padrões de sono, estado psíquico, etc., e enviar
esses dados para o nosso médico.
Poderão, também, ser
utilizados para monitorizar bebés e crianças,
auxiliar atletas nos seus treinos, reconhecer pessoas das quais já nos
esquecemos, auxiliar na condução de veículos detetando situações de risco,
registar gostos pessoais, servir de guia fora e dentro de edifícios, traduzir o
que dizemos para qualquer língua.
Poderão, ainda, ser
utilizados para quantificar tudo o que fazemos, quantas calorias ingerimos,
quantos passos damos, quantas horas dormimos. No fundo, para além de
assistentes pessoais, serão conselheiros, treinadores, enfermeiros e, não nos
esqueçamos, insistentemente controladores.
Mas, mais do que controlo e
esperteza, as pessoas precisam é de inteligência. Por isso, se formos
inteligentes, depressa perceberemos que, em vez de nos deixarmos controlar por
um telefone mais ou menos esperto, temos é que desligá-lo e viver a vida, em
toda a sua beleza e com toda a sua incerteza. É que é dessa beleza e dessa
incerteza que são feitas as melhores e mais geniais coisas do mundo.
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