quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Demasiado espertos


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em de 6 de Novembro de 2012


Há pouco tempo, enquanto esperava por um avião num qualquer aeroporto da Europa, um colega de viagem tentava convencer-me das maravilhas de duas aplicações que utilizava frequentemente no seu telemóvel: uma indicava-lhe a refeição que deveria tomar, tendo em atenção o que tinha comido recentemente; a outra, alertava-o para o caso de estar a comprar produtos dos quais não tinha necessidade. Eu, na minha ingenuidade de tecnólogo crítico de certas aplicações, bem tentava explicar-lhe os inconvenientes, mas falhei redondamente.

O que é certo é que, quase sem nos apercebermos disso, estamos, cada vez mais, dependentes das tecnologias da informação e comunicação (TIC). Nos nossos automóveis, sistemas de posicionamento global falam connosco e dizem-nos como chegar ao destino pretendido, sem sobressaltos, enganos ou aventuras.  Cada vez mais cedo as crianças adquirem dependência em relação aos “smartphones”, que assumem um papel essencial não só na sua vida, mas também na vida de muitos de nós.

A tendência atual dos “smartphones” é a de se tornarem assistentes pessoais. De facto, alguns modelos já exploram essa funcionalidade, permitindo que falemos para eles, lhes façamos perguntas e demos ordens em linguagem natural, prontamente respondidas ou executadas, sem hesitações ou queixas.

De facto, um “smartphone” dos nossos dias é já muito mais “smart” (esperto) do que “phone” (telefone). Num futuro próximo, estes dispositivos serão utilizados para praticamente tudo, recolhendo informação do ambiente e de nós próprios.

Assim, usando sensores apropriados, poderão recolher informações sobre pressão arterial, ritmo cardíaco, análises sanguíneas, padrões de sono, estado psíquico, etc., e enviar esses dados para o nosso médico.

Poderão, também, ser utilizados para monitorizar bebés e crianças,  auxiliar atletas nos seus treinos, reconhecer pessoas das quais já nos esquecemos, auxiliar na condução de veículos detetando situações de risco, registar gostos pessoais, servir de guia fora e dentro de edifícios, traduzir o que dizemos para qualquer língua.

Poderão, ainda, ser utilizados para quantificar tudo o que fazemos, quantas calorias ingerimos, quantos passos damos, quantas horas dormimos. No fundo, para além de assistentes pessoais, serão conselheiros, treinadores, enfermeiros e, não nos esqueçamos, insistentemente controladores.

Mas, mais do que controlo e esperteza, as pessoas precisam é de inteligência. Por isso, se formos inteligentes, depressa perceberemos que, em vez de nos deixarmos controlar por um telefone mais ou menos esperto, temos é que desligá-lo e viver a vida, em toda a sua beleza e com toda a sua incerteza. É que é dessa beleza e dessa incerteza que são feitas as melhores e mais geniais coisas do mundo.

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