Artigo de opinião
publicado no diário ‘As Beiras’
em 20 de Novembro
de 2012
Recebi há pouco, como
muitos milhares de portugueses, uma motivadora mensagem de correio electrónico
originária da Autoridade Tributária e Aduaneira, apelando à exigência de fatura
em todas as vendas de bens e serviços.
No que diz respeito à
substância do apelo, não poderia estar mais de acordo e esta iniciativa só me
pode merecer elogios. Estima-se que se não existisse evasão fiscal e se todos
os cidadãos pagassem os seus impostos não haveria défice orçamental e
desapareceria a necessidade da tão famigerada austeridade.
Já no que diz respeito à
forma da mensagem, tenho que confessar que me desagradou. Por um lado,
pretende-se que a mensagem seja entendida como personalizada, pessoal até,
sendo, nalgumas partes, quase emotiva, invocando a equidade, a justiça e o
dever de todos nós. É a parte agradável, pois quase nos faz crer que,
finalmente, o Estado começa a ter em conta a pessoa de carne e osso que mora em
cada um de nós. Por outro lado, logo no início fui brindado com um “Ex.mo
Senhor 143......”, seguido do meu nome à laia de complemento redundante e, por
isso, perfeitamente dispensável.
É certo que todos temos que
ter um número de identificação fiscal e que esse número é, provavelmente,
aquilo que melhor nos identifica perante o Estado, já que é um número único,
sem qualquer ambiguidade, ao contrário do nome. É certo que, de um ponto de
vista informático, qualquer base de dados tem que utilizar esses
identificadores únicos, chamados “chaves primárias” no jargão das tecnologias
da informação e comunicação (TIC). Também é certo que a missiva que muitos de
nós recebemos é uma mera mensagem gerada automaticamente, por um frio programa.
Mas não é menos certo que quem configurou esse envio em massa poderia –
deveria, direi eu – ter optado por não incluir na mensagem, logo a seguir ao
“Ex.mo Senhor”, o número de identificação fiscal, incluindo simplesmente o
nome. Desta forma, sim, teríamos uma mensagem muito mais coerente, muito mais
pessoal, muito mais eficaz.
É que não há necessidade de
acentuar aquela ideia que muitos de nós já temos de que somos apenas números
numa gigantesca base de dados, que nos envia mensagens automaticamente para que
os números passem a ser diferentes e o sistema se equilibre numericamente aos
olhos dos que, interna e externamente, reduzem economias e sociedades a mais
alguns números.
Somos pessoas! Este país,
todos os países, são feitos de pessoas, que têm sentimentos, anseios, alegrias
e desilusões. E todos os sistemas, todas as bases de dados, existem para nos
servir e não o contrário.
Como nota final, também me desagradou
o facto de a pessoa que tão cordialmente assina a mensagem não ter colocado o
seu número de identificação fiscal antes do seu próprio nome. Daria, assim, o
exemplo, pois estaria a falar de número para número, ou seja, de igual para
igual.
Sem comentários:
Enviar um comentário