Artigo de opinião
publicado no diário ‘As Beiras’
em 13 de Novembro
de 2012
Nos dias de hoje muito se
fala na austeridade como solução para a crise que nos assola. A crise, mero sintoma
de um problema complexo, é atacada com uma única arma – a austeridade – automática
e universalmente aceite, materializada em menor rendimento para os que
trabalham e menos serviços de saúde, de educação e de segurança social para
todos os cidadãos.
Curiosamente, por outro
lado, pouco se fala nos problemas que estão por detrás do sintoma que é a
crise, problemas esses que passam, pelo menos parcialmente, por uma boa dose de
falta de racionalidade e rigor na utilização de recursos. Se não se gastasse
tanto dinheiro mal gasto, talvez não houvesse tanta necessidade de reduzir a
mínimos dramáticos as missões fundamentais do Estado, causando, de um momento
para o outro, tanta comoção social.
É certo que, em rigor, nem
devia ser necessário estar-se em crise para se falar na otimização da
utilização dos meios disponibilizados ao Estado, pagos por todos nós, já que
quer em tempos de crise quer fora dela deve ser minimizado o esforço financeiro
pedido aos contribuintes.
Infelizmente, não é preciso
procurar muito para, em qualquer sector, se encontrarem exemplos de gastos
desnecessários. A área das tecnologias da informação e comunicação (TIC) não é
exceção.
Um exemplo gritante é o da
utilização de todo o tipo de pacotes de software requerendo elevados gastos
anuais de licenciamento, apesar da existência de soluções equivalentes de
utilização livre (o chamado “open source”). Se contabilizarmos os gastos de
licenciamento de software na administração central e local, certamente se
atingirão valores de vários milhões de euros. Será que somos mais ricos do que
países como a França e a Alemanha, que recorrem a software de utilização livre
nas suas administrações?
Ainda no domínio das TIC, a
proliferação descontrolada de serviços e plataformas informáticos, replicados
até à exaustão em cada sector da máquina do Estado, financiada durante largos anos
por arrojados programas de modernização, conduz agora a enormes gastos de
manutenção, gestão e atualização, quer de hardware quer de software.
Poucos questionaram então a
correção e racionalidade desses “investimentos” (e os que o fizeram sempre
foram olhados com desconfiança), mas muitos são os que agora falam em
austeridade, sem se preocuparem em ir mais fundo na busca de fatores de
desperdício.
Se não há dinheiro,
corta-se em pessoas e serviços, pois é muito mais fácil do que identificar as
verdadeiras causas do problema, a razão dos gastos, as ineficiências. É muito
mais cómodo não admitir erros, não encarar os problemas, não procurar soluções,
não tomar decisões. É muito mais simples deixar que a austeridade venha
resolver – mal, diga-se de passagem – os problemas que a irracionalidade gerou.
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