Artigo de opinião
publicado no diário ‘As Beiras’
em 4 de Dezembro
de 2012
Tal como o analfabetismo
priva as pessoas de entenderem muito do mundo em que vivem, a exclusão digital
constitui, nos dias de hoje, um sério obstáculo ao acesso à informação, à
cultura e ao desenvolvimento de indivíduos e sociedades.
As tecnologias da informação
e comunicação (TIC) são indispensáveis para a sociedade atual, suportando todos
os ramos de atividade, possibilitando todo o tipo de serviços – dos mais
tradicionais aos mais inovadores – e criando condições para o fomento da
atividade económica a nível global.
Por estes motivos, muito se
tem debatido na última década a chamada infoexclusão, e inúmeras iniciativas
têm sido levadas a cabo no sentido de a combater. Familiarizar os cidadãos com as
TIC, instruí-los para que possam tirar melhor partido delas, incentivar a sua
utilização, é algo de importância estratégica.
Não devemos, no entanto,
exagerar. Longe vão os tempos em que tinha que se saber como funcionavam os
computadores para utilizá-los. Hoje todos podemos, com alguma prática, tirar partido
de um incontável número de ferramentas informáticas e de todo o tipo de
dispositivos digitais. De facto, a tendência atual das tecnologias é a de se
tornarem cada vez mais intuitivas, cada vez mais “conscientes” dos
utilizadores, das suas preferências e dos contextos em que são utilizadas. Na
realidade, pode dizer-se que uma tecnologia é tanto melhor quanto menos se
nota.
É certo que, por muito amigáveis
que venham a ser as TIC, haverá sempre alguma percentagem de infoexcluídos,
percentagem essa que dependerá de muitos fatores, um dos quais será o grau de
resistência à “infoinclusão”. Algumas pessoas têm fobia à utilização das TIC,
outras têm simplesmente receio ou insegurança. Muitos outros motivos podem
existir, mas o que é certo é que para certas pessoas a “infoinclusão” seria uma
violência e só traria desvantagens. A propósito desses casos devemos
lembrar-nos que a inclusão digital não é um objetivo em si e que o objetivo é o
bem estar das pessoas.
Mas o pior lado da infoexclusão
é o de dentro. Refiro-me aos que, sendo digitalmente literatos e, até,
proficientes, se vão excluindo – quase sem se darem conta – do mundo real e se submergem
irremediavelmente numa qualquer realidade virtual.
Esses veem o mundo através
das tecnologias, interagem com outros apenas de forma remota, reduzem a vida a
uma incessante interação homem-máquina. Esquecem-se de ver as coisas pelos
próprios olhos, ignoram os que estão ao seu redor, deixam-se afogar por um devastador
tsunami de dados. São essas as verdadeiras e mais dramáticas vítimas da
exclusão que, essa sim, é absoluta e totalmente digital.
Talvez não fosse, assim, má
ideia preocuparmo-nos mais com esses do que com os poucos que não querem
utilizar as TIC. É que muitos deles pertencem às camadas mais jovens e, por
isso, deles dependerá o futuro.
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