quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Viagens na minha terra

Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 8 de Fevereiro de 2010


Não vou falar de viagens em barco a vapor, nem de caminhos-de-ferro nem de estradas de pedra, até porque nem de longe nem de perto posso aspirar ao engenho do nosso ilustre romancista, poeta, dramaturgo e político do século XIX, Almeida Garrett (tão pequeno é o meu engenho, que tenho, até, que lhe pedir emprestado o título de uma sua obra prima). Vou, antes, falar daquilo que as modernas tecnologias podem fazer pelas viagens e pelos viajantes que as empreendem, por forma a mostrar o que por cá há e o que por cá se faz.

O forte desenvolvimento registado em anos recentes em termos de tecnologias da informação e comunicação, em particular nas áreas da Internet, comunicações móveis e convergência das redes de telecomunicações e redes de computadores, possibilita e potencia o desenvolvimento de um vasto leque de aplicações para as chamadas redes de conteúdos ou redes de comunidades.

As tecnologias e equipamentos existentes no mercado estão suficientemente estabilizadas para permitir o desenvolvimento de um conjunto de serviços extremamente inovadores, mesmo quando considerado o panorama internacional, que dêem resposta a um vasto leque de problemas, nos quais claramente se incluem problemas urbanos de grande relevância para as comunidades, abrangendo vertentes como a gestão do espaço público, a acessibilidade e mobilidade urbanas, o comércio electrónico móvel (m-commerce), a cultura e o lazer. Os utilizadores acederão aos serviços quer através de dispositivos móveis (telemóveis, PDAs) quer através de computadores pessoais (desktops, portáteis). Vejamos, no que se segue, alguns exemplo de possíveis serviços.

Agenda cultural – um serviço deste tipo poderá permitir que o utilizador tenha acesso à agenda cultural da cidade ou região, constituída por eventos publicados por um RSS feed. O utilizador poderá pesquisar e navegar pelos eventos/notícias disponíveis, podendo seleccionar um evento e colocá-lo na sua agenda pessoal.

História e monumentos – o serviço poderá alertar um utilizador para a proximidade de um monumento ou marco histórico relevante, à medida que ele se desloca na cidade, povoação ou região, disponibilizando-lhe informações variadas sobre esse ponto de interesse.

Circuitos turísticos – com este serviço será possível, por um lado, que um utilizador obtenha informação sobre circuitos turísticos e, por outro, que o utilizador registe a sua posição durante um passeio e possa analisar o seu trajecto posteriormente; poderá, ainda, assinalar pontos de interesse ao longo do trajecto e adicionar as suas próprias notas ou impressões.

Guia de transportes – um serviço deste tipo possibilitará, por um lado, que um utilizador consulte informação sobre os transportes urbanos (p. ex., linhas existentes, preços, horários) e, por outro, que este obtenha informação sobre quais os transportes a utilizar para viajar entre dois pontos da cidade ou região.

Gastronomia – com um serviço deste tipo será possível que o utilizador procure um restaurante numa lista pré-definida, quer por nome quer por características, seleccione um restaurante, faça uma reserva e armazene essa informação na sua agenda.

São inúmeras as aplicações potenciadas pelas novas tecnologias de comunicação móvel, sendo limitadas apenas pela imaginação. Referiram-se acima, a título de exemplo – e de desafio – apenas cinco possíveis tipos de serviços. Sejam eles um dia concretizados e “viajaremos com muito prazer e com muita utilidade e proveito na nossa boa terra”.


Fernando P. L. Boavida Fernandes
Professor Catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra
Presidente do Conselho de Administração da Associação Coimbra Região Digital