quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

As TIC e as Regiões Digitais

Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
10 de Julho de 2009, página 34

As regiões digitais estão na moda. Nunca se falou tanto em novas tecnologias, em redes de nova geração, em fibras ópticas, em banda larga, em Internet móvel, em planos tecnológicos, em portais, em informatização e em desmaterialização. De repente, parece que os fins deixaram de ser importantes e passaram a importar, apenas, os meios. Se está informatizado é bom, se usa novas tecnologias é vantajoso e se tem fibras ópticas é avançado. Certo? Infelizmente, não é necessariamente assim.

Dir-se-ia que quem escreve estas linhas é contra novas tecnologias ou não as conhece adequadamente, que não é um profissional com vinte e sete anos de experiência em tecnologias da informação e comunicação (TIC), que não tem sob sua responsabilidade grandes e modernas infra-estruturas de TIC, que não está a par do desenvolvimento e investigação que se fazem no pais e no estrangeiro nesta matéria. Felizmente, não é esse o caso. Há, apenas, que desmistificar o papel que tais tecnologias – de inquestionável importância e utilidade – podem desempenhar no desenvolvimento local, regional e nacional. Para tal, nada como tentar responder a duas ou três questões simples, em bom Português, acessível a pessoas de todas as áreas e formação, ou seja, a todos os leitores.

A primeira questão que me vem à ideia é a seguinte: o que é uma região digital? Na sua essência, uma região digital não é mais do que uma aproximação colaborativa e concertada à melhoria do fornecimento de serviços, por parte de várias entidades de uma dada comunidade, recorrendo a um leque de tecnologias da informação e comunicação mais ou menos inovadoras.

A segunda questão – e, talvez, a mais importante – é: para que serve uma região digital? Se a questão é natural e simples, já a resposta exige algum trabalho, a julgar pela dificuldade com que várias das regiões digitais que existem em Portugal se deparam em afirmar-se e dar-se a conhecer aos cidadãos. Em última análise, uma região digital deve servir para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos por ela abrangidos, em áreas tão importantes como a educação, a saúde, o lazer, a cultura, a ecologia, a sustentabilidade, o turismo, a segurança, o emprego, a informação, a eficácia e eficiência das interacções com os agentes locais, entre muitos outros aspectos. As questões chave são, claramente, a orientação para o cidadão, a utilidade, a procura, a necessidade e os benefícios, e não as tecnologias, que têm sempre que ser encaradas como um meio – certamente inovador - mas não como o objectivo das regiões digitais. Por exemplo, para os residentes numa comunidade sem serviços de saúde especializados não é relevante a tecnologia utilizada para a realização de consultas, diagnóstico ou prescrição remotos, mas sim que tais actos possam ser realizados. Serão estes melhores se forem prestados com recurso às TIC? Obviamente que a sua qualidade dependerá, essencialmente, do profissional de saúde.

A terceira questão é: mas, afinal, não devem as tecnologias da informação e comunicação ser visíveis para que as regiões digitais tenham sucesso? Claramente, não. O papel das TIC é, naturalmente, central para as regiões digitais, mas aquelas só devem ser visíveis para os especialistas, porque são estes que têm que as implantar no terreno, operar e manter. Felizmente que, para guiar um automóvel não precisamos de o construir, de o saber reparar ou de saber como é feito. O mesmo se passa com as TIC e com quem as utiliza. De facto, pode afirmar-se que as regiões digitais serão um sucesso quando os cidadãos se esquecerem de que elas existem e quando a utilização de todo o vastíssimo leque de serviços e vantagens que elas podem oferecer for tão simples que ninguém mais fale em novas tecnologias, redes de nova geração, fibras ópticas, banda larga, Internet móvel, planos tecnológicos, portais, informatização e desmaterialização. É nesse sentido que a Associação Coimbra Região Digital está a trabalhar.


Fernando P. L. Boavida Fernandes
Professor Catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra
Presidente do Conselho de Administração da Associação Coimbra Região Digital

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