Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 22 de Janeiro de 2010
Nos dias de hoje tudo parece imediato. Nalguns casos, todos apreciamos a capacidade que existe hoje em fazer certas coisas bem e depressa, pois tal está por detrás de muito do desenvolvimento das civilizações. As tecnologias da informação e comunicação são, sem dúvida um dos potenciadores desta mudança revolucionária.
Quantas vezes, no entanto, os maravilhosos resultados imediatos comprometem a adopção de soluções de futuro? Infelizmente, na área do e-government – seja ele local ou não – vezes de mais se privilegia o impacto do imediato em detrimento da modernização consistente e planeada. Analisemos um pouco mais esta questão.
Muitas das iniciativas de modernização a que assistimos hoje estão assentes no pressuposto de que disponibilizando financiamento os resultados aparecem. A dura realidade mostra-nos que tal não é assim.
Primeiro, há que saber direccionar o financiamento para acções e actividades que tenham em vista a criação de condições infra-estruturais, isto é, para acções e actividades que criem a base sobre a qual se vai proceder à modernização. Há, também, que produzir linhas de orientação para o desenvolvimento dessas infra-estruturas – sejam elas físicas (por exemplo, redes, equipamentos, servidores), ou lógicas (por exemplo, sistemas de informação, ambientes aplicacionais) – sob pena de se aumentar a já demasiada elevada ‘entropia’. Tal compete, em grande medida, às entidades financiadoras.
Em seguida, há que apoiar a Administração Pública na definição de projectos concretos, globalmente consistentes e tecnologicamente niveladores, evitando-se assim um Estado a muitas velocidades, onde os que têm mais capacidade técnica e humana se modernizam e os restantes ficam cada vez mais para trás. Tal só conduz a desequilíbrios altamente prejudiciais para as regiões e, consequentemente, para as populações, sendo totalmente injustificado num País tão pequeno como o nosso. Infelizmente, a cultura da ‘competição’ – sempre apregoada como salutar – tem acentuado este efeito pernicioso, conduzindo a que o Estado compita com ele próprio e acentue as desigualdades no seu seio.
Para além disso, há que investir nos recursos humanos, sobretudo em termos de formação. Naturalmente, tem, ainda, que se proceder a um acompanhamento técnico – e não meramente formal ou administrativo – de todos os projectos, assegurando que produzem resultados adequados.
Em resumo, há que definir linhas de acção devidamente estruturadas e coordenadas, elaborar linhas de orientação, promover o nivelamento tecnológico e acompanhar, de um ponto de vista técnico, a execução dos projectos. Tem que se ultrapassar, de uma vez por todas, a cultura dos ‘resultados imediatos a qualquer preço’ e trabalhar para o desenvolvimento e modernização a médio e longo prazo. É isso que é feito nos países mais desenvolvidos, que definem planos e programas a dez ou quinze anos. Naturalmente que tal tem que ser feito envolvendo todos os parceiros relevantes, que incluem a administração central, a administração local e, não menos importante, as cidades e regiões digitais. Só assim se pode consolidar os resultados de hoje e trabalhar todos os dias para um melhor Amanhã.
Fernando P. L. Boavida Fernandes
Professor Catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra
Presidente do Conselho de Administração da Associação Coimbra Região Digital