terça-feira, 1 de março de 2011

Vai-te lucro que me dás perca!


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 28 de Fevereiro de 2011


A informatização – ou desmaterialização – de processos tem sido apontada como um passo essencial para a melhoria da eficácia e qualidade de serviços. Numa sociedade que não funciona já sem o recurso a tecnologias da informação e comunicação, os sistemas de informação permitem a organização, pesquisa e rápido acesso a grandes volumes de dados. Sendo condição necessária para a eficácia e qualidade, muitos parecem esquecer que estes sistemas não são, no entanto, condição suficiente. Embarca-se, assim, mais vezes do que seria desejável, em ‘desmaterializações’ que se revelam verdadeiros pesadelos e inultrapassáveis obstáculos à celeridade e produtividade.

Apesar de os sistemas de informação das organizações serem, em regra, críticos para o seu bom funcionamento, não raras vezes as aplicações que lhes servem de suporte são mal concebidas, sendo verdadeiros exemplos de como não se deve realizar Engenharia Informática.

Na maior parte dos casos, os sistemas de informação são escolhidos e/ou desenvolvidos sem que tenha havido uma cuidada análise de requisitos e uma aturada especificação. Sabe-se, genericamente, que a aplicação deve ter determinada funcionalidade, olha-se para o preço, lê-se alguma informação publicitária na Internet e toma-se uma decisão.

As surpresas aparecem, em regra, logo após a aquisição ou desenvolvimento. As aplicações não estão adaptadas (nem são adaptáveis) aos ambientes em que são utilizadas; a interface com o utilizador foi mal concebida, é desnecessariamente complexa, é difícil de utilizar e é pouco intuitiva. Começam aqui as queixas de quem tem que lidar todos os dias com o sistema de informação.

As queixas agravam-se logo que os utilizadores se apercebem de que operações que até aí eram feitas de forma bastante rápida e simples passam a ser muito mais complexas, exigindo o percurso de vários ecrãs, o preenchimento de múltiplos formulários e o carregamento/registo de muito mais dados.

O descalabro acontece quando esses sistemas necessitam de importar e/ou exportar dados de/para outras aplicações. Em muitos casos trata-se de ambientes fechados, não facilitando ou, mesmo, impedindo, a comunicação com outros sistemas. Como consequência, tem que se proceder a exportações manuais de dados, quando não a múltiplos carregamentos de informação, com enormes perdas de produtividade.

Encontram-se variadíssimos exemplos software nestas condições, seja ele de apoio às escolas, de submissão de candidaturas a projectos ou a financiamentos, de elaboração de relatórios de actividade, de interacção com a Administração Central ou Local, de realização de compras on-line e de muitos outros tipos. As consequências fazem-se sentir quer ao nível do funcionamento das instituições quer da relação com o cidadão. Quantas vezes já ficámos frustrados pois, ao contrário do que deveria acontecer, a informática nos complicou a vida? Poderemos sentir-nos de outra forma quando uma ferramenta que nos pode dar imenso lucro nos traz, afinal, desnecessária perda?