quinta-feira, 17 de março de 2011

A velha história da inovação


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 16 de Março de 2011


Muito se tem falado em inovação. É um termo quase obrigatório no discurso oficial de políticos, gestores e responsáveis, rivalizando em popularidade com as tecnologias da informação e comunicação (TIC). De facto, os dois assuntos são frequentemente ligados um ao outro, o que é compreensível, pois a flexibilidade e o potencial das TIC são tão grandes que estas desempenham um papel fundamental num substancial número de casos em que há inovação.

Mas, afinal, o que é a inovação? Deve começar-se por dizer que a inovação é já uma velha história, tão velha quanto a história da Humanidade. Como disse Jeremy Bentham, filósofo e jurista inglês nascido há pouco mais de 263 anos, “tudo quanto está estabelecido foi, noutros tempos, inovação”. Com efeito, a inovação é indissociável do pensamento humano e, sobretudo, das ideias, sendo algo de inegável e constante na nossa evolução. Citando Vítor Hugo (escritor e poeta francês, n. 26/2/1802, f. 22/5/1885), “é possível resistir à invasão de exércitos; já o não é resistir à invasão de ideias”.

As ideias e, consequentemente, o cérebro, estão na base de toda a inovação. Mas, como sabemos, os dois lados do cérebro humano são muito diferentes. Enquanto o lado esquerdo é responsável pelo pensamento analítico, lógico e estruturado, indispensável para ciências como a matemática ou a engenharia e, portanto, para as TIC, já o lado direito tem a ver com a intuição, as emoções, a fantasia, a arte e a criatividade, fundamentais para a inovação. Já Einstein dizia que a inovação não é produto de pensamento lógico, embora o resultado da inovação tenha que o ser.

Assim, se pretendemos uma sociedade de pessoas inovadoras e empreendedoras muito tem que ser alterado, a começar pelas nossas escolas e a acabar pela atitude de organismos e empresas. Deve evitar-se o ensino demasiado “formatado”, deve incentivar-se o gosto pela exploração e o espírito crítico dos alunos, deve cultivar-se a interdisciplinaridade e levar a que alunos de áreas tecnológicas desenvolvam também atividades na área das humanidades e vice-versa, por forma a exercitar ambos os hemisférios do cérebro. Por outro lado, nas entidades e empresas deve-se promover a comunicação (não a restringindo a canais formais), reduzir a burocracia (seja em papel ou seja “desmaterializada”), fomentar o espírito optimista, recompensar as boas ideias, aceitar os riscos, tolerar fracassos e saber abandonar ideias que não funcionam (de boas intenções está o Inferno cheio).

Como disse o escritor e filósofo americano Ralph W. Emerson (n. 25/5/1803, f. 27/4/1882) “somente os que constroem sobre ideias é que constroem para a Eternidade”. E se um outro “filósofo”, português e futebolista, disse em Junho de 2010 que os golos são como o ketchup, eu acrescentaria que então as ideias inovadoras são como os livres diretos: só uma pequena percentagem tem sucesso. Não podemos, no entanto, deixar de rematar à baliza por medo de não marcar golo.