terça-feira, 26 de junho de 2012

Ousar!


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 25 de Junho de 2012


Quando se fala de computadores e de tecnologias da informação e comunicação (TIC) muitos ‘clichés’ nos vêm de imediato à mente, de tão impregnado por eles que está o nosso dia-a-dia. Muitas pessoas – entre as quais se incluem até tecnólogos e especialistas – creem que por detrás desses modernos termos se encontram conceitos desenvolvidos há poucos meses ou, no máximo, há poucos anos. Curiosamente, mais frequentemente do que se pensa, tal não é verdade.

De forma a ilustrar a questão, consideremos a figura ímpar de John McCarthy, desconhecida do grande público, mas de tão grande impacto nos nossos dias e, provavelmente, no nosso futuro.

John McCarthy foi um pioneiro das ciências da computação, nascido em 4 de setembro de 1927 e falecido em 24 de outubro de 2011, curiosamente no mesmo mês em que faleceram Dennis Ritchie, também ilustre desconhecido do grande público, coinventor do famoso sistema operativo UNIX e da não menos importante linguagem de programação C, e Steve Jobs, cofundador da Apple que, ao contrário dos dois anteriores, é universalmente conhecido.

Pois, para que conste, muitos dos modernos conceitos de computação e comunicação foram concebidos e aperfeiçoados por John McCarthy nas longínquas décadas de 1950 e 1960, como, por exemplo, os conceitos de time-sharing e de cloud computing. Foi o fundador da área científica de inteligência artificial, termo que a ele se deve, e contribuiu decisivamente para o avanço do processamento da linguagem natural e da robótica. Para além disso, inventou a linguagem de programação LISP. De salientar, ainda, que muitos dos conceitos presentes nas mais avançadas linguagens de programação dos dias de hoje foram por ele desenvolvidos na década de 1960.

Por estes e outros contributos de enorme importância e impacto, John McCarthy recebeu em 1971 o Turing Award, prémio atribuído pela Association of Computer Machinery, que é considerado o Nobel das ciências da computação.

Podem extrair-se várias lições da extraordinária vida de John McCarthy. Uma delas é que todos os problemas devem ser encarados de forma intensa e aprofundada, independentemente do seu âmbito. Outra é que nada deve limitar a nossa procura de soluções, nem mesmo o medo de sermos demasiado ousados.

De facto, demasiadas vezes a pressão de resultados imediatos nos impede de ousarmos pensar em soluções de futuro. Demasiadas vezes nos julgam pelo que conseguimos hoje, em detrimento das perspetivas que se poderiam abrir para o amanhã.

John McCarthy poderá ter feito muitas coisas, de grande impacto na nossa sociedade e em tudo o que fizermos no futuro, fazendo-nos avançar em termos científicos e tecnológicos. Mas talvez a coisa mais nobre que fez em toda a sua vida tenha sido, afinal, muito simples: ousar!

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