Artigo de opinião
publicado no diário ‘As Beiras’
em 18 de Junho de
2012
Já todos nos habituámos à ideia
de que as tecnologias da informação e comunicação (TIC) se infiltraram em muitos
aspetos do nosso dia-a-dia, mas alguns não se terão apercebido de que o grau de
infiltração é muito mais elevado do que aparenta.
Naturalmente, uma
ferramenta tão versátil e poderosa como as TIC não podia deixar de ser
utilizada num objeto tão comum e essencial como o automóvel. No entanto essa
utilização é muito maior do que se poderia pensar, abrangendo não só todas as
fases da concepção e produção, mas também a sua utilização.
Os automóveis são, cada vez
mais, complexas redes de dispositivos informáticos e de comunicação, cujas
semelhanças com o passado se resumem ao facto de terem rodas e habitáculo. É
certo que ainda os conduzimos, mas em poucos anos a crescente funcionalidade de
condução assistida – já presente em muitos modelos mais modernos – tomará conta
da condução.
Nos nossos dias os automóveis
incluem um poder de processamento e cálculo centenas de vezes superior àquele
que foi utilizado na Apolo XI, na primeira viagem do Homem à Lua. Um vasto
conjunto de sensores e actuadores monitorizam e controlam todo o tipo de
variáveis. Nalguns modelos, esses dados podem ser enviados para o fabricante
e/ou oficina, por forma a detetar eventuais problemas e a prevenir avarias
graves. Nalguns casos, inclusivamente, pode haver atuação remota sobre o
veículo, via Internet, o que já ocasionou problemas num passado recente. Assim,
a resposta à questão de quem controla o seu carro é cada vez mais difícil de
dar.
Sabia, por exemplo, que
muitos dos automóveis recentes contêm uma “caixa negra” que, à semelhante do
que acontece nos aviões, regista uma série de informações sobre a condução?
Esse dispositivo é construído para resistir a múltiplos impactos e para manter
dados de uma série de variáveis nos segundos que antecedem um acidente, como
sejam a velocidade, a pressão do pé sobre o acelerador, as rotações do motor, a
existência ou não de travagem ou, ainda, a utilização ou não de cinto de
segurança.
Em certos países esses
dados já podem ser disponibilizados às autoridades que investigam os acidentes,
às seguradoras e aos tribunais. A generalização da sua utilização para fins
legais nos países mais desenvolvidos é, por isso, apenas uma questão de tempo.
É claro que manter esse
tipo de informação é importante, por forma a responsabilizar os condutores. Não
se trata aqui de violar a liberdade de cada um, já que a nossa liberdade para
conduzir como queremos acaba quando se violam as leis e se põem vidas em risco.
Mas será caso para
perguntar onde iremos parar com as TIC. Será que com esta ânsia de tudo registar
e controlar não estaremos a transformar a nossa sociedade numa gigantesca caixa
negra?
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