Artigo de opinião
publicado no diário ‘As Beiras’
em 4 de Junho de
2012
Está presentemente em
discussão nos EUA uma proposta de lei apresentada ao Congresso por Republicanos
e Democratas, designada “Cyber Intelligence Sharing and Protection Act (CISPA)”.
A CISPA visa a proteção dos sistemas informáticos do país, a investigação e
punição dos crimes informáticos, a proteção e segurança das pessoas, e a
própria segurança nacional.
Dado que a Internet não tem
fronteiras, tudo o que tenha a ver com a proteção contra crimes informáticos é
relevante para todo o Mundo e parece, à primeira vista, ser positivo, mas o que
é certo é que esta é uma lei polémica, que alimenta o debate sobre o equilíbrio
entre a segurança e os direitos dos cidadãos.
A legislação em estudo
permite que agências estatais e empresas privadas troquem informação sobre
utilizadores e utilizações da rede sempre que haja suspeita de que existe
perigo de ataque informático ou de outras atividades ilícitas.
O governo pode, assim,
evitar ataques que podem por em causa a segurança nacional. As empresas podem
receber informação que as ajude a prevenir ataques aos seus sistemas. Quem
perde são os cidadãos que, de acordo com a “American Civil Liberties Union
(ACLU)” e com a própria administração Obama, que se opõe à proposta de lei,
veem a sua privacidade ameaçada e a sua liberdade comprometida.
Permitir a troca de
informação entre serviços de informação e empresas privadas, sem que existam
mecanismos para garantir que essa informação seja utilizada apenas para os fins
legalmente permitidos, é algo que reúne todas as condições para dar maus
resultados, seja nos EUA, seja em Portugal ou seja em qualquer outra parte do
mundo. O mínimo que se pode dizer é que não é original e já foi utilizado vezes
sem conta ao longo da História, sempre com consequências nefastas.
Neste caso concreto a
questão tem, no entanto, um impacto muito maior, dada a abrangência global e a
importância da Internet para a sociedade atual. Desde muito cedo que a Internet
se caracterizou por ser uma rede sem um controlo centralizado, independente de
governos e países. O que revolta agora muitas associações de utilizadores é a
possibilidade de governos passarem a controlar e dirigir esta rede,
monitorizando o que nela se passa.
Por todo o lado se levantam
vozes, contra e a favor desse controlo. Naturalmente, o principal meio para
essa discussão é a própria Internet, o que diz muito do apetecível poder que
este meio de comunicação tem. Uns dizem
que a segurança dos países tem que se sobrepor a tudo. Outros advogam que a
ausência de garantias de liberdade e privacidade é uma ameaça muito maior do
que qualquer ataque informático. O que é certo é que, mesmo que se encontre um
equilíbrio entre ambas as argumentações, ele será sempre um equilíbrio
instável.
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