quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O novo cibercrime




Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 7 de Fevereiro de 2012


Não é novidade que todos gostamos de novidade. Contam com isso os fabricantes e vendedores dos mais variados produtos e serviços, os fazedores de opinião e, até, os políticos. A novidade espicaça a curiosidade e alimenta o sonho, sobretudo se estiver associada a um elevado grau de tecnologia.

A esta regra não foge um dos produtos mais procurados, mais apetecíveis e, nalguns casos, mais idolatrados da nossa sociedade: o automóvel. Os mais modernos recorrem já intensivamente às tecnologias da informação e comunicação (TIC), auxiliando o condutor em muitas tarefas da condução ou, nalguns casos, substituindo-o completamente.

Nestes veículos, quase todos os sistemas de controlo são dependentes de um ou mais microprocessadores. Para além disso, sistemas de comunicação permitem a monitorização remota do veículo e a sua ligação a outras redes – por exemplo, redes celulares de terceira ou quarta geração ou, ainda, redes Wi-Fi – possibilitando que os seus ocupantes recebam informação, visualizem conteúdos lúdicos ou acedam à Internet. Os carros transformaram-se em sistemas complexos, já não autónomos mas sim ligados a outros sistemas mais complexos ainda, dos quais o condutor controla uma fração cada vez menor.

É neste ambiente de maior automatização e controlo – que, segundo os seus fabricantes, torna os carros mais seguros – que surgem novas ameaças, aproveitando as portas abertas pela tecnologia.

Existem já casos reportados no Estados Unidos da América em que sistemas de desativação remota de veículos foram indevidamente utilizados para desligar os motores de dezenas de automóveis. Noutros casos, foram detetadas falhas de segurança de software que permitiram que os números de identificação (incluindo marcas, modelos e ano de fabrico) e a localização dos veículos fossem acedidos por terceiros. As mesmas ou outras falhas poderão ser exploradas para, eventualmente, abrir os veículos e colocá-los em marcha.

Mais grave, ainda, será o acesso remoto aos veículos para desativar os seus controlos, provocando o caos rodoviário. São cenários claramente catastrofistas, mas aproximamo-nos deles a passos largos, sendo certo que muitos fabricantes os encaram não só com determinação, mas também com genuína preocupação, pois sabem que a ameaça da criminalidade informática passa agora a pairar sobre eles.

A vasta experiência com sistemas informáticos ligados em rede já nos deu amargas lições. Até os sistemas informáticos mais seguros foram, são e serão alvo de ataques. Ligar carros, casas e todo o tipo de sistemas em rede é, sem duvida, uma novidade que, sendo apelativa e alimentando o sonho, não nos pode fazer esquecer que o cibercrime – orientado agora para esta nova realidade – se pode transformar no nosso maior pesadelo.

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