terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A fatura informática


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 13 de Fevereiro de 2012


Julgará o leitor que vamos aqui falar da fatura electrónica e das suas vantagens e desvantagens, mas não é esse o caso. O assunto é mais sério, pois falaremos da fatura que todos, como contribuintes, estamos a pagar pela utilização das tecnologias da informação e comunicação (TIC) na administração pública central e local.

Ao que consta, o governo quer reduzir a fatura informática. Pelos vistos, a aplicação de umas quantas medidas de racionalização na utilização das TIC poderá levar a uma poupança de cerca de 500 milhões de euros por ano. Em tempo de crise, nada parece mais sensato a governantes e governados do que reduzir custos, pelo que todos aplaudimos.

Alguns, mais entusiasmados, dizem: “Tudo vai ser melhor daqui para a frente! Agora é que vamos poupar e racionalizar, ao mesmo tempo que modernizamos e desenvolvemos!”. A questão é que o histórico dos últimos 20 anos – para não irmos mais atrás – nos mostra que muitos já disseram isso em tempos idos, mas nem por isso a taxa de insucesso das respetivas iniciativas foi menor.

Se com umas quantas medidas e algumas ideias sobre racionalização se conseguem poupanças de 500 milhões de euros por ano, isso é o primeiro sintoma de que muita coisa está assustadoramente mal no reino das TIC na administração pública. Quais os projetos ou estratégias de TIC, dignos desse nome, que conduzem a ineficiências de 500 milhões de euros por ano? Como foram ponderadas as condicionantes, avaliadas as possíveis soluções e tomadas as decisões de implementação? Que análise custo-benefício foi feita?

Essas mesmas questões podem ser colocadas em relação às medidas de que agora se fala. Aliás, por muito que se goste de boas medidas – das quais nós e o Inferno estamos seguramente cheios – não nos esqueçamos que os bons projetos de engenharia informática não se fazem com medidas mais ou menos sonantes, num qualquer simplex improvisado, qual concurso de ideias.

Como não podia deixar de ser, usam-se chavões: “Vamos recorrer a software livre! Vamos intensificar o recurso ao cloud computing!”. E aí está como se reformulam os sistemas de informação! Umas quantas buzzwords e tudo parece ficar resolvido!

Por muito que se goste do software livre – que muito me agrada – uma mudança para este tipo de solução exige tempo, recursos humanos, formação e, consequentemente, dinheiro. O mesmo acontece com a passagem para cloud computing que, numa primeira fase, poderá levar a custos acrescidos, para não falarmos dos complexos aspetos de dimensionamento, disponibilidade e segurança que levanta.

Não é, assim, líquida a imediata poupança de custos. E se, mais uma vez, fizermos as coisas sem uma rigorosa metodologia de projeto, cá estaremos daqui a uns anos a queixar-nos do aumento da fatura informática.

Sem comentários:

Enviar um comentário