terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A solidão digital





Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 2 de Janeiro de 2012


Tal como o nome indica, as tecnologias da informação e comunicação (TIC) são uma ferramenta que potencia a comunicação. As redes de computadores e de telecomunicações possibilitam que sistemas informáticos localizados em qualquer parte do mundo comuniquem entre si como se estivessem diretamente ligados. As pessoas podem aceder a serviços inimagináveis há apenas meia dúzia de anos, a qualquer hora e a partir de qualquer lugar. Comunicar nunca foi tão fácil, tão imediato e tão utilizado.

As TIC possibilitam agora que pessoas que se encontram fisicamente distantes falem umas com as outras, se relacionem, se vejam e cooperem na execução de tarefas. O mundo deixou de ser uma aldeia e passou a ser uma única sala, onde podemos encontrar – para além de informação e serviços – as pessoas de quem necessitamos.

As interfaces de comunicação que estão disponíveis nos atuais equipamentos computacionais e de comunicação recorrem cada vez mais ao tato, à voz e ao vídeo. As interações pessoa-máquina são cada vez mais naturais, ou seja, mais próximas daquilo que seriam entre pessoas de carne e osso.

Naturalmente que tais ferramentas revolucionaram a forma como trabalhamos, como produzimos riqueza e, ainda, como interagimos uns com os outros. Dir-se-ia que as TIC aproximaram as pessoas. Mas, apesar de todas estas facilidades de comunicação, tão intensamente exploradas, será que as pessoas estão verdadeiramente mais próximas?

É certo que temos as redes sociais, mas muitos dos que nessas redes se apelidam de “verdadeiros amigos” dar-se-iam a considerável trabalho para evitar encontrar-se. É certo que ainda temos o velho correio electrónico, mas quantas coisas se escrevem em mensagens de correio que nunca se diriam se as pessoas estivessem cara-a-cara? É certo que temos a videoconferência, mas as decisões verdadeiramente importantes só se tomam em reuniões presenciais. É certo que alguns, mais avisados, usam as TIC para conhecerem outras pessoas e culturas, explorarem o mundo que os rodeia, a história, a ciência, a natureza e o Universo, mas muitos outros usam-nas para se isolarem num mundo virtual, irreal, inexistente.

Frequentes são as vezes em que se utilizam as TIC para não ser necessário encarar os colegas que estão nos gabinetes próximos, para comunicar ordens de serviço, para se controlar pessoas como se fossem processos num qualquer sistema de business intelligence, para se contratar e despedir funcionários.

Mas se tal acontece, em muito isso se deve à natureza das pessoas e não às TIC em si. Cabe-nos, pois, evitar um futuro no qual a única voz simpática seja a de um ou uma assistente virtual e em que o único contacto seja o de um frio ecrã táctil, pois se não o fizermos estaremos irremediavelmente entregues à solidão digital.

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