terça-feira, 24 de janeiro de 2012

É só fazer as contas


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 23 de Janeiro de 2012


Nos meios mais ligados às tecnologias da informação e comunicação (TIC) – mas também fora deles – as buzzwords mais utilizadas nos últimos tempos são, talvez, as da expressão cloud computing ou, em bom português, computação na nuvem. Para esclarecimento dos leigos e, se calhar, de muitos alegados especialistas, tentaremos aqui clarificar alguns dos principais aspetos desta curiosa expressão.

O conceito de cloud computing foi inventado há mais de cinquenta anos, em 1961, embora não com esse nome, por John McCarthy (n. 1927, f. 2011), um cientista de computadores e pioneiro da inteligência artificial. Como muitas vezes acontece, a sua ideia era demasiado avançada para a tecnologia existente na altura, o que fez com que o conceito só começasse a ter viabilidade várias décadas mais tarde.

As peças tecnológicas que, nesse momento, faltavam eram não só a grande capacidade computacional mas, também e sobretudo, a possibilidade de interligação dos computadores através de redes suficientemente rápidas, peças essas de que dispomos em abundância hoje em dia.

Inicialmente, o conceito de cloud computing foi (e ainda é) explorado sob o nome de grid computing, permitindo a cooperação de vários supercomputadores interligados entre si, de forma a resolver um problema específico, tipicamente envolvendo cálculo científico intensivo. O conceito foi, depois, estendido à utilização de quaisquer recursos computacionais, interligados através da Internet (normalmente representada por uma nuvem, ou cloud) de forma a fornecer serviços aos utilizadores independentemente da sua localização e do dispositivo que estão a utilizar para se ligarem à rede. Os recursos – por exemplo, redes, servidores, espaço de armazenamento, aplicações ou serviços – são partilhados por diversos utilizadores, disponibilizados a pedido e geridos com o mínimo de sobrecarga de gestão.

Visto que, através do cloud computing, é possível utilizar equipamentos, plataformas e software remotos como se fossem locais, muitas empresas exploram essa possibilidade deixando de ter os seus próprios serviços de TIC – e os consequentes custos em termos de equipamentos, software, manutenção e recursos humanos – que passam a contratar a outras empresas, que mais eficientemente possam fornecer esses serviços.

É claro que uma decisão sobre utilização de cloud computing tem que ser muito bem ponderada, quer em termos de segurança – um fator muitas vezes esquecido por uns e escamoteado por outros – quer em termos de autonomia quer, ainda, em termos de custos. Como disse um famoso ex-primeiro ministro, é só fazer as contas. O problema é que, aparentemente, no nosso país, muitos não as sabem fazer ou fazem mal, e muitas decisões – não só de TIC – são tomadas com base em buzzwords.

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