terça-feira, 10 de julho de 2012

Olhar para trás


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 9 de Julho de 2012


Apesar de o caminho que todos seguimos ter apenas um sentido, que nos conduz inexoravelmente para a frente, a melhor forma de evitar erros no futuro é, de vez em quando, parar um pouco e olhar para trás. Aprender com os erros do passado é um sinal de inteligência e, ao mesmo tempo, de humildade pois, por um lado, fortalece-nos para novos combates e, por outro, mostra-nos que não devemos ter a arrogância de pensar que as nossas escolhas de hoje são sempre isentas de erro.

Falando em erro, se há uma área na qual foram e são cometidos muitos erros é a das tecnologias da informação e comunicação (TIC). Poderá esta afirmação parecer estranha ao leitor, principalmente sabendo que é feita por um informático, mas, como diz o ditado, contra factos não há argumentos.

E dos muitos factos que poderia invocar escolho um não só pela sua dimensão, mas também pela importância e impacto que tem para todo um país. Refiro-me à política de TIC que foi seguida na última década, que o recente “Plano global estratégico de racionalização e redução de custos nas TIC, na Administração Pública – Horizonte 2012-2016” vem agora reconhecer como profundamente errada, ao identificar medidas que poderão levar a poupanças de mais de 500 milhões de euros por ano.

Durante anos, incontáveis serviços da administração central e local puseram no terreno soluções de TIC demasiado caras em termos do seu custo inicial, não sustentáveis dados os seus custos de operação e manutenção, e até, em muitos casos, completamente desnecessárias.

Mas não pensemos que a “culpa” de tudo isto é apenas dos serviços que adquiriram ou concretizaram essas soluções. Ao longo de vários anos, inúmeros programas e concursos estabeleceram como critério fortemente beneficiador de candidaturas a implementação de soluções replicadas e replicáveis, com o beneplácito de ministros, secretários de estado, comissões de coordenação, não sei quantas agências governamentais e peritos de elevada competência em termos de empreendedorismo, inovação e estratégias de TIC.

É por isso que acho muito estranho que muitos especialistas – que, certamente, não apareceram agora do nada – se admirem da extraordinária quantidade de “data centres” que existem por todo o país, das dezenas de milhares de servidores informáticos, das infraestruturas de rede largamente sobredimensionadas, das soluções de software de custos exorbitantes. Onde estavam eles quando se atropelaram todas as boas práticas da engenharia informática?

Dirão que agora é que temos uma verdadeira política de TIC. Olhem para o passado, meus senhores, que não é assim tão remoto. Aprendam com os (também vossos) erros e, sobretudo, não tenham a arrogância de crer que não erram. Por uma vez, tenham a humildade de olhar para trás!

Sem comentários:

Enviar um comentário