Artigo de opinião
publicado no diário ‘As Beiras’
em 9 de Julho de
2012
Apesar de o caminho que
todos seguimos ter apenas um sentido, que nos conduz inexoravelmente para a
frente, a melhor forma de evitar erros no futuro é, de vez em quando, parar um
pouco e olhar para trás. Aprender com os erros do passado é um sinal de inteligência
e, ao mesmo tempo, de humildade pois, por um lado, fortalece-nos para novos
combates e, por outro, mostra-nos que não devemos ter a arrogância de pensar
que as nossas escolhas de hoje são sempre isentas de erro.
Falando em erro, se há uma
área na qual foram e são cometidos muitos erros é a das tecnologias da
informação e comunicação (TIC). Poderá esta afirmação parecer estranha ao
leitor, principalmente sabendo que é feita por um informático, mas, como diz o
ditado, contra factos não há argumentos.
E dos muitos factos que
poderia invocar escolho um não só pela sua dimensão, mas também pela
importância e impacto que tem para todo um país. Refiro-me à política de TIC
que foi seguida na última década, que o recente “Plano global estratégico de racionalização
e redução de custos nas TIC, na Administração Pública – Horizonte 2012-2016”
vem agora reconhecer como profundamente errada, ao identificar medidas que
poderão levar a poupanças de mais de 500 milhões de euros por ano.
Durante anos, incontáveis
serviços da administração central e local puseram no terreno soluções de TIC
demasiado caras em termos do seu custo inicial, não sustentáveis dados os seus
custos de operação e manutenção, e até, em muitos casos, completamente
desnecessárias.
Mas não pensemos que a
“culpa” de tudo isto é apenas dos serviços que adquiriram ou concretizaram
essas soluções. Ao longo de vários anos, inúmeros programas e concursos
estabeleceram como critério fortemente beneficiador de candidaturas a
implementação de soluções replicadas e replicáveis, com o beneplácito de
ministros, secretários de estado, comissões de coordenação, não sei quantas
agências governamentais e peritos de elevada competência em termos de
empreendedorismo, inovação e estratégias de TIC.
É por isso que acho muito
estranho que muitos especialistas – que, certamente, não apareceram agora do
nada – se admirem da extraordinária quantidade de “data centres” que existem
por todo o país, das dezenas de milhares de servidores informáticos, das
infraestruturas de rede largamente sobredimensionadas, das soluções de software de custos exorbitantes. Onde
estavam eles quando se atropelaram todas as boas práticas da engenharia
informática?
Dirão que agora é que temos
uma verdadeira política de TIC. Olhem para o passado, meus senhores, que não é
assim tão remoto. Aprendam com os (também vossos) erros e, sobretudo, não
tenham a arrogância de crer que não erram. Por uma vez, tenham a humildade de
olhar para trás!
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