Artigo de opinião
publicado no diário ‘As Beiras’
em 14 de Julho de
2012
Ora aqui está um assunto
que pode ser muito agradável ou muito desagradável, consoante a perspetiva:
dinheiro! Quem não o tem, acredita que traz a felicidade. Quem o tem, diz que
não. Mas afinal, o que tem o dinheiro a ver com as tecnologias da informação e
comunicação (TIC), tema subjacente a estas crónicas? Nos dias de hoje, muito.
Num futuro próximo, cada vez mais.
Comecemos por tentar
perceber o que é o dinheiro, olhando – ainda que superficialmente – para a sua
história. A primeira menção ao dinheiro aparece em textos da Mesopotâmia
datados do terceiro milénio antes de Cristo. Nos quatro milénios seguintes, até
ao século XIII da nossa era, a utilização de dinheiro teve altos e baixos,
tendo sempre por base moedas de ouro, prata, cobre ou ligas metálicas, cujo
valor derivava do metal utilizado. No entanto, só no século XIII um imperador
chinês – de nome Kublai Khan – criou o papel-moeda conferindo ao dinheiro, pela
primeira vez na história da Humanidade, o valor que ele verdadeiramente
encerra: um valor meramente simbólico e convencional.
É certo que por várias
vezes na História se voltou a ligar o dinheiro ao valor dos metais, mas a
massiva injeção de ouro e prata que Portugal e Espanha geraram na Europa nos
séculos XVI e XVII teve efeitos inflacionários globais que demonstraram os
perigos de ligar o valor do dinheiro ao do seu suporte.
Hoje o dinheiro é
reconhecido por todos como uma abstração, uma representação de um crédito –
ainda que muito complexa e poderosa – cujo valor é o que lhe é conferido por
governos e/ou mercados. Com as TIC, essa abstração é cada vez mais virtual e
mais digital. Com as TIC, o dinheiro é, cada vez mais, um número numa ou mais
bases de dados.
Na História recente, muitos
foram os suportes físicos da abstração que é o dinheiro: papel e moedas (ou
seja, numerário), cartões com fitas magnéticas ou cartões com chips (ou seja,
dinheiro de plástico). Mais recentemente, existem experiências com telemóveis em
substituição de cartões de crédito e, ainda, com biometria. Neste último caso,
os dados biométricos – reconhecimento de íris, voz, impressões digitais ou
padrões vasculares – são utilizados para autorizar o acesso à base de crédito
(a conta bancária) em substituição de qualquer cartão ou dispositivo externo.
Há quem considere que com
as TIC muitas outras formas de crédito aparecerão, não suportadas por governos.
Um exemplo é o dos créditos do Facebook que, por agora, são de aplicação
limitada, mas que poderão assumir uma maior importância no futuro.
Em tudo isto, uma tendência
é clara: o dinheiro físico, real, em numerário, está a desaparecer. Talvez
dentro de poucos anos notas e moedas sejam mais uma curiosidade, entre as
várias que nos foram legadas pelo mundo pré-TIC.
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