terça-feira, 12 de julho de 2011

Vestir o rei


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 11 de Julho de 2011


Já todos ouvimos falar da banda larga e muitos utilizam esta expressão sem terem sequer uma vaga ideia do que significa, apesar de se afectarem ares de grande conhecimento técnico quando o fazem. No fundo, com tanto alarido à volta da banda larga, fixa ou móvel, com tanta publicidade em jornais, rádio e televisão, ninguém quer dar parte de fraco e admitir que gostaria de saber em que consiste essa ‘coisa’, saber, afinal, porque é que se chama banda e porque é que é larga. É um pouco como a história do rei que todos viam que ia nu, mas que ninguém queria admitir por medo de confessar a sua ignorância. Vamos, então, “vestir o rei”.

As redes de comunicação são, em geral, constituídas por canais, que suportam a transmissão de fluxos de informação. Por exemplo, uma rede de televisão por cabo comporta vários canais, uma rede telefónica tem capacidade para operar múltiplos canais telefónicos, etc.. Nesses canais a informação é representada por sinais eléctricos, electromagnéticos, luminosos, ou outros, que variam ao longo do tempo de uma forma mais ou menos rápida, com determinadas frequências. À diferença entre a frequência mais elevada e a frequência mais baixa transportadas por um dado canal chama-se largura de banda.

Na primeira metade do século XX, Claude E. Shannon e Harry Nyquist, trabalhando separadamente, deram enormes contributos para o desenvolvimento dos sistemas de comunicação e da transmissão de dados, provando que quanto maior for a largura de banda de um canal e quanto menor for o ruído nele presente, maior será a quantidade de bits de informação que se pode transmitir por unidade de tempo. Os trabalhos de Shannon e Nyquist estiveram na base da construção dos computadores e redes digitais, tais como os conhecemos hoje.

Com a utilização crescente das redes de dados, passou a haver necessidade de comunicação a partir de qualquer lugar. No entanto, em meados do século XX e nas décadas seguintes, a única rede amplamente disponível era a rede telefónica, cujos canais tinham uma largura de banda bastante reduzida, de apenas 3100 hertz. Ora, essa banda tão estreita permitia apenas velocidades de transmissão (isto é, débitos binários) bastante modestos, na ordem das poucas dezenas de milhares de bits por segundo.

Surgiu, assim, a necessidade de redes de “banda larga”, isto é, redes com largura de banda superior à da tradicional rede telefónica, capazes de suportarem a transmissão a débitos binários da ordem dos milhões de bits por segundo (megabits por segundo, Mbps). É esse o caso das redes DSL, redes de cabo coaxial, redes de fibra óptica ou, ainda, redes móveis de terceira geração.

Todas estas redes são, afinal, de banda larga. De facto, já ninguém utiliza banda estreita – isto é, a rede telefónica comutada – para transmissão de dados. É por isso que a expressão “banda larga” já pouco ou nada diz, transmitindo apenas uma ilusória superioridade, tal como o fato do rei que ia nu.

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