quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O olho de Hórus


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 7 de Fevereiro de 2011


Ninguém pode ficar indiferente às convulsões que hoje assolam o Egito, país cujo passado de mais de quatro mil e quinhentos anos marca de forma indelével a cultura e história da Humanidade. São, no entanto, o presente e o futuro que preocupam, em primeiro lugar, o seu povo e, em segundo, toda a comunidade internacional.

Na luta por uma vida melhor, a palavra, a informação e a comunicação – mais do que pedras e espingardas – são armas de força extraordinária. Na sociedade global em que vivemos, uma grande parte da informação e comunicação passa pela Internet e é, precisamente, para ela que se viram os que pretendem fazer-se ouvir em todo o Mundo, quantas vezes em ato de desespero. É assim no caso do Egito.

Mas é também no Egito – tal como aconteceu já noutros países – que por estes dias se tenta silenciar a Internet. Ao fazê-lo, reconhece-se na Internet e nas tecnologias da informação e comunicação (TIC) uma força que nenhum político ou governo pode desprezar.

É sintomático ver, no meio de manifestações mais ou menos agitadas, pessoas com cartazes a reclamar acesso à Internet. Exigem, efetivamente, o acesso à palavra, o direito de poderem expressar-se, apelar a outros, informar.

No entanto, ao contrário do que acontece na maioria dos casos nos quais o poder instituído está envolvido, no caso das tentativas de impedimento de acesso à Internet a desigualdade de forças favorece o cidadão anónimo, as grandes massas, o povo. Não é possível a ninguém – governante ou não – encerrar toda a Internet. Pode-se decretar o encerramento de operadores regionais ou nacionais, mas continua a haver sempre outras formas de acesso como, por exemplo, através de redes telefónicas ou redes de satélite.

Num outro plano, mesmo em situações de ausência de conflito como, felizmente, em Portugal, é interessante verificar que as populações consideram o acesso à Internet como um bem essencial, um direito inalienável. Veja-se, por exemplo, o curioso caso de boicote às recentes eleições presidenciais na freguesia de Gralheira, Cinfães, cujos eleitores reclamavam melhores condições de acesso à Internet. Veja-se, ainda, a atenção que o acesso e utilização de TIC têm merecido – bem, diga-se de passagem – de governantes e políticos nacionais.

A Internet é, portanto, muito mais do que um conjunto de tecnologias, usadas para trabalho ou para lazer. É, também, muito mais do que um importante instrumento para dinamização da economia. A Internet afirma-se, cada vez mais, como um bem essencial e, mais ainda, como o garante de direitos tão fundamentais como a liberdade de expressão ou o direito à informação. A Internet é um instrumento que a todos dá uma voz que pode ser ouvida em todo o Mundo e que, por isso, protege os oprimidos.

É este o papel que, atualmente, a Internet desempenha no Egito, tal como o foi, durante milénios, o papel do olho de Hórus na sua rica mitologia: o de poderoso protetor desta imortal nação.