quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Namorar na Internet


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 14 de Fevereiro de 2011


Os engenheiros das primeiras redes de computadores, percursoras da Internet, não sonhavam que em poucas décadas as tecnologias cujo desenvolvimento iniciaram dariam lugar a redes de comunicação à escala global, que mudariam radicalmente a forma como se cria algo, como se faz ciência, como se desenvolvem ideias e negócios, como as pessoas se divertem e como se relacionam umas como as outras. Muito longe estavam, portanto, de imaginar que no futuro as redes serviriam também para namorar.

Namorar é – entre muitas outras coisas de difícil definição – comunicar. Por isso, para os namorados a Internet veio mesmo a calhar. Pode-se agora, a qualquer momento, escrever à pessoa amada, enviar um poema, reafirmar votos de amor eterno ou, enfim, relembrar, numa simples mensagem de correio electrónico, que ela nos não sai da cabeça (talvez não seja boa ideia, no entanto, fazer declarações de amor pela Internet, pois esse tipo de coisas tem que ser feito pessoalmente).

Mas o ‘velhinho’ correio electrónico é só para os ‘cotas’, já que lhe falta o imediatismo e a dinâmica da juventude. Naturalmente, a Internet também responde às necessidades dos seus mais novos e arrojados utilizadores. Não será, afinal, muito mais simples trocar mensagens em tempo real, ouvir a voz ou então ver quem, estando distante, queríamos perto? Esperemos alguns anos – não muitos – e poderemos ter ambientes de realidade virtual a três dimensões, onde quase poderemos tocar o ser amado.

Tudo isto facilita o namoro e, portanto, só pode ser bom. É, no entanto, interessante tentar imaginar como teriam sido os grandes romances de amor se na altura em que ocorreram existisse a Internet. Será que histórias imortais como as de Píramo e Tisbe, Tristão e Isolda, Pedro e Inês, ou Romeu e Julieta, poderiam ocorrer na era da informação e comunicação, ou só o desencontro as tornou possíveis?

Nunca o saberemos. O que sabemos é que, independentemente das tecnologias, ou da ausência delas, independentemente daquilo que for o futuro da Internet, das redes sociais ou dos computadores, uma coisa é certa: tudo servirá para que as pessoas continuem a namorar. Com ou sem cartas, telegramas, telefone, fax, correio electrónico, instant messaging, voz sobre IP, videoconferência ou realidade virtual, haverá sempre uma forma de duas pessoas que querem dizer uma à outra que se amam o fazerem. Nem que seja com sinais de fumo.

Mas já que a Internet existe, já que a força universal do amor nos lembra constantemente que há coisas que não mudarão nunca, então que se aproveite aquilo que a Internet tem de bom – e que se esqueça, por um dia apenas, o que tem de mau – de modo a facilitar a vida aos que, como disse o nosso inigualável poeta Luís de Camões, sentem aquele “fogo que arde sem se ver”, aquele “contentamento descontente”, a “dor que desatina sem doer”. Ainda bem que, apesar da crise, dos infindáveis problemas, dos desgostos e das preocupações, ainda se pode namorar na Internet!