quarta-feira, 15 de junho de 2011

O cavalo de Tróia


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 13 de Junho de 2011


Os cavalos tiveram um papel fundamental na História da Humanidade, tendo estado na base da ascensão e queda de grandes impérios. Durante milénios os cavalos foram um recurso estratégico de enorme importância, fornecendo mobilidade e força motriz. De forma diferente, essa importância perdura nos dias de hoje, não só pelos elevados montantes envolvidos na indústria equina, mas também pelo carácter intemporal da relação quase mágica entre seres humanos e estes simpáticos animais.

No entanto, os atuais ‘cavalos de batalha’ são, sem sombra de dúvida, as tecnologias da informação e comunicação (TIC). É com recurso às TIC que se constroem verdadeiros impérios, se desenvolvem negócios, se gera emprego e se desenvolve toda a espécie de atividades. As TIC são o novo motor da sociedade, são o catalisador da mobilidade – real e virtual – e são uma poderosa ferramenta para o desenvolvimento.

Curiosamente, tal como o imenso cavalo de madeira repleto do soldados hostis, utilizado como engodo pelos gregos na guerra contra os troianos no final da Idade do Bronze, por volta de 1300 a 1200 anos antes de Cristo, também as TIC podem trazer graves e inesperados problemas.

Os mais comuns – e, provavelmente, os mais tratáveis, pelo facto de existirem ferramentas especializadas para tal – são os problemas de segurança. Para além de incontáveis vírus e vermes informáticos, todos já ouvimos falar de cavalos de Tróia, que não são mais do que programas que, a coberto de aplicações ‘bem comportadas’, executam ações indesejáveis, como sejam o roubo ou destruição de informação. Felizmente que vírus, vermes e cavalos de Tróia podem, em regra, ser eliminados com recurso a software de anti-vírus.

Mas os piores cavalos de Tróia informáticos são aqueles que ninguém classifica como tal e que, por isso, não se podem eliminar com recurso a software especializado, pois todo o seu funcionamento é perfeitamente legítimo. Refiro-me às soluções informáticas com custos escondidos, que, depois de instaladas no terreno, se revelam um sorvedouro de recursos humanos e financeiros.

São relativamente frequentes os casos em que na escolha de soluções informáticas se menosprezam os custos de operação, manutenção, expansão e evolução, tantas vezes porque quem compra fica ofuscado por baixos custos iniciais de aquisição ou por grandes e generosos descontos comerciais. Só algum tempo depois de instalada a solução – tipicamente, após o primeiro ano – se torna claro que esta é demasiado cara e, pior ainda, que os custos de instalação de uma solução alternativa seriam agora incomportáveis, pois obrigariam a um largo e caro período de transição. Fica-se, assim, refém de uma solução que estrangula quem a adoptou.

Tal como no caso do cavalo de Tróia original, este é um estratagema que sai muito caro às vítimas. Surpreendentemente, passados mais de 1200 anos, ainda é grande o número de sábios decisores que se deixa enganar.

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