terça-feira, 24 de maio de 2011

A nova geração


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 23 de Maio de 2011


Vivemos numa sociedade cada vez mais ligada às tecnologias da informação e comunicação (TIC), na qual muitos termos e expressões técnicos são de uso vulgarizado, assimilados já pela linguagem corrente. Apesar disso, não são poucas as pessoas que desconhecem o verdadeiro significado de vários deles e não são raros os casos em que a sua utilização é incorreta.

Peguemos no exemplo da expressão “redes de nova geração”, conhecida e usada por todos e com base na qual se definem, até, iniciativas, programas de financiamento, políticas e tantos outros instrumentos de governação de TIC.

Afinal o que são as tão badaladas redes de nova geração? De um ponto de vista técnico, a expressão é vaga e, portanto, imprecisa. Será que se pretende designar as redes que utilizam fibras ópticas, cujo conceito foi demonstrado pela primeira vez há cerca de 170 anos, na década de 1840? Ou refere-se, por outro lado, às modernas redes sem fios, que utilizam transmissão rádio, cujo princípio foi estudado e desenvolvido desde 1820 até ao final desse século por ilustres cientistas, dos quais se destaca Heinrich Hertz?

Talvez a característica determinante dessas redes seja a velocidade de transmissão – mais corretamente designada por débito binário – que deverá ser da ordem das dezenas ou centenas de megabits por segundo? Mas redes com estes e maiores débitos já existem desde 1990, ou seja, há mais de vinte anos. Será que são redes de “banda larga”? Ooops! Esqueço-me que a expressão “banda larga” é ainda mais imprecisa do que a que pretendemos definir!

Decerto que as redes de nova geração serão aquelas que permitem um acesso rápido à Internet e aos serviços que ela suporta. Mas quantas e quão variadas são tecnologias já o permitem há várias décadas?

Pois, de facto, a expressão “redes de nova geração” pouco ou nada diz. Não especifica meios físicos de transmissão, não estabelece débitos binários, não garante capacidade de comutação, não impõe tecnologias, não determina protocolos a utilizar, não assegura a qualidade dos serviços.

Na realidade, todas as gerações de redes são novas quando comparadas com as que as antecederam, pelo que o conceito de redes de nova geração é meramente transitório, não tendo um significado absoluto. A rede telefónica foi, à altura do seu aparecimento, revolucionária. O mesmo sucedeu com as redes de dados, as redes de serviços integrados, a rede Arpanet, as redes móveis e redes sem fios e, por fim, a Internet como rede universal e única.

Talvez a expressão “redes de nova geração” seja, afinal e apenas, um instrumento de marketing destinado a atrair a atenção de clientes, um chamariz para quem gosta de novidades pela novidade, um indicador de realização para quem precisa de mostrar que realiza. Tudo o que é novo chama a atenção e dinamiza negócios e mercados. Sendo isso positivo, também tem o seu lado negativo, já que é esse o princípio que está na base do consumismo que todos temos agora que pagar.

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