terça-feira, 17 de maio de 2011

Amor e ódio


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 16 de Maio de 2011


São muitas as ideias erradas e os preconceitos acerca do que são e de como devem ser as relações entre a Universidade e a sociedade envolvente, com especial ênfase na relação com empresas, mas não excluindo outras entidades, públicas ou privadas.

Os mais distraídos ou menos informados ainda acreditarão no mito da torre de marfim, imaginando uma Universidade acantonada, fechada sobre si própria, olhando para o passado, agarrando-se ao conhecimento bafioso e livresco, com medo do mundo real e das empresas.

Alheado e distante do mundo que o rodeia está quem assim pensa, já que a realidade atual é muito diferente. A interação entre Universidade e empresas é, hoje em dia, uma vital fonte de receita para a primeira e uma importante fonte de conhecimento, tecnologia e know-how para as segundas. Dessa interação resultam novos desafios, inovação e considerável benefício mútuo.

Não obstante o bom nível de interação que já existe, é ainda necessário um diálogo mais intenso entre Universidade e empresas. Por comparação com outros países da Europa, pode dizer-se que, em Portugal, a percentagem de empresas que interagem com a Universidade é relativamente baixa, embora tenha crescido bastante nos últimos anos.

No entanto, sendo desejável, a relação entre Universidade e empresas só é viável se as naturais diferenças entre ambos os parceiros forem reconhecidas e aceites à partida. Se, por um lado, é um erro conceber a Universidade como uma entidade fechada sobre si mesma, por outro é um erro quase tão grande pensar que ela deve chamar a si o papel que só pode ser desempenhado eficazmente pelas empresas.

Universidade e empresas têm missões diferentes mas complementares. A da Universidade é centrada na investigação, na geração de conhecimento, na formação avançada. A das empresas é centrada na aplicação do conhecimento e da tecnologia, no fabrico de produtos acabados, na comercialização de produtos e serviços.

Naturalmente que não significa isto que não possam, em certos casos, as empresas fazer investigação e a Universidade fazer desenvolvimentos e prestar serviços. Muito pelo contrário, é até desejável que o façam, pois daí decorre, no mínimo, uma visão mais abrangente e enriquecedora para cada um. Uma Universidade que forma quadros superiores para o mercado de trabalho não pode ignorar a missão das empresas nem alhear-se delas. Por outro lado, uma empresa dinâmica, que queira enfrentar os desafios atuais e futuros, não pode dar-se ao luxo de desperdiçar os saberes e a inovação característicos, mas não exclusivos, da Universidade.

Diferença e complementaridade parecem, assim, ser a chave do sucesso das relações entre Universidade e empresas, que se fortalecem mutuamente quando interagem e cooperam. É claro que essas relações nem sempre têm sido fáceis, umas vezes de amor, outras de ódio. Mas, mais frequentemente do que se julga, é de amor e ódio que se fazem as coisas importantes da vida.

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