sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

2011


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 10 de Janeiro de 2011


Aviso - Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade não é pura coincidência.

Ano da graça de 2034: o dispositivo electrónico de identificação (DEI) é generalizado e está em plena utilização. Com esta maravilha da nanotecnologia, implantada subcutaneamente à nascença em todos os indivíduos, existe uma total modernização, optimização e simplificação de processos. Não há necessidade de qualquer cartão. Nada é mantido em papel. Há uma completa desmaterialização. Há um integral respeito pela ecologia.

É agora possível saber onde as pessoas estão, a que horas chegam ao trabalho e quando se ausentam, que pausas fazem, que actividades desenvolvem, que fronteiras atravessam. O Sistema de informação global – apenas possível com recurso às redes de nova geração, às mais modernas tecnologias de Internet e à informática – acede directamente a toda a informação de registo contida nos computadores ligados à Rede. Todos os acessos ficam registados.

A Entidade Central sabe tudo sobre todos os cidadãos (afinal, quem não deve não teme): os dados pessoais, os registos civis, a situação fiscal, os registos de propriedade mobiliária e imobiliária, o registo criminal, a situação financeira.

As vantagens não se ficam pela relação com a Entidade Central. As viaturas circulam livremente, sendo a sua identificação e localização efectuadas de forma automática. Pode, assim, taxar-se em funções dos quilómetros percorridos. As infracções são imediatamente identificadas e comunicadas via Rede à autoridades e ao infractor. O constante rastreio de veículos permite uma rápida intervenção em caso de acidente, salvando vidas. A localização generalizada e constante de pessoas garante que não existem desaparecidos. Nenhuma criança se perde ou é raptada.

A criação e cessação de vínculos laborais é feita pela Rede. A ligação das empresas ao Sistema de informação global dispensa dinheiro e documentos. Em qualquer acto de compra e venda, o vendedor sabe imediatamente se o potencial comprador tem recursos suficientes para efectuar a transacção. A Entidade Central recebe, de imediato, toda a informação sobre todas as transacções.

Recorrendo a sensores é, ainda, possível controlar a saúde de todos em tempo real. Pode, assim, dimensionar-se o sistema de saúde e planear-se a sua resposta. Todos os gastos em saúde ficam optimizados. Todas as baixas médicas ficam automaticamente validadas. Todas as prescrições médicas ficam registadas e são comunicadas directamente às farmácias, que as executam, debitam e enviam ao doente.

Ano da graça de 2011: Ufff! Ainda bem que isto é uma obra de ficção! Mas, pensando bem, não estamos assim tão longe. A realidade aproxima-se perigosamente da ficção. De uma forma ou de outra, com pequenas variações, já quase tudo existe. Só os mecanismos de garantia de privacidade, de cidadania e de democracia nos separam disso. Mas quantas vezes eles falharam ao longo da história da Humanidade?