terça-feira, 21 de setembro de 2010

O parente pobre


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 20 de Setembro de 2010


Em Portugal, a actividade de Engenharia é regulada a diversos níveis. Não é qualquer pessoa que pode elaborar um projecto de um edifício, de uma estrada ou de uma instalação eléctrica, por exemplo. Também nas áreas da Mecânica ou da Química, a actividade de Engenharia obedece a normas bem definidas. Já no que diz respeito à Informática o mesmo não pode ser dito.

Devido à grande divulgação da Informática, confunde-se a simples utilização com as actividades de projecto e de construção. Qualquer pessoa sabe de informática. Qualquer bacharel ou licenciado pode dar aulas de informática. Na minha vida profissional deparei-me – não raras vezes – com especialistas de informática licenciados em História, em Economia, em Direito, em Humanidades, entre muitas outras áreas. Curiosamente, vários deles atingiram o topo da carreira e têm grandes responsabilidades na tomada de decisões na área Informática. Mas será que são Engenheiros Informáticos? Será que sabem o que significa elaborar um projecto de Engenharia Informática?

Edifícios públicos são construídos sem redes ou infra-estruturas informáticas. Têm, no entanto, redes de água, esgotos, electricidade e telefone. Só a posteriori se contacta um fornecedor e se lhe pede para instalar uma rede informática. Aliás, é interessante verificar que a esmagadora maioria das infra-estruturas informáticas existentes foi feita sem qualquer projecto de engenharia. Contacta-se um vendedor e ele lá se encarrega de colocar uma solução no terreno. O problema é semelhante noutras áreas que não a das infra-estruturas, como sejam a dos sistemas de informação ou a das plataformas aplicacionais.

É curioso que as Administrações Central e Local do Estado, tão rigorosas no cumprimento de um sem número de procedimentos, na área Informática se esqueçam completamente de aplicar as mais elementares regras de Engenharia. Naturalmente, abrem-se concursos, mas o fornecedor seleccionado não está, em regra, condicionado à execução de um projecto previamente elaborado. Pode, assim, não fazer qualquer análise de requisitos, não elaborar qualquer especificação, não realizar quaisquer testes de conformidade. Ou pode, simplesmente, adaptar requisitos, especificações e testes às características dos produtos e soluções que decide implantar.

Claro que atrás de uma solução concreta - escolhida por um fornecedor e não com base em características técnicas decorrentes de um projecto de Engenharia – vêm sempre outras questões, como sejam condicionantes no que diz respeito à evolução dos sistemas, expansão e manutenção, todas muito vantajosas ... para alguém.

A não regulamentação da actividade de Engenharia Informática tem um custo muito elevado para o País. Sendo esta uma área tão estratégica para o desenvolvimento, para a criação de emprego, para a modernização e para a competitividade, não se compreende a razão porque é tratada como o parente pobre da Engenharia.