quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Todos os nomes


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 4 de Outubro de 2010


Quase todos os dias somos ‘bombardeados’ com uma série de termos e siglas relativos às tecnologias da informação e comunicação (TIC). É certo que em todas as áreas da ciência e da tecnologia existe uma imensidão de termos técnicos – a maior parte dos quais totalmente incompreensíveis para o comum dos mortais – e também é certo que esse jargão é utilizado, frequentemente, como forma de demarcar a linha entre conhecedores e leigos. No entanto, a difusão das TIC é de tal ordem que a sua gíria nos invade a vida, se apropria da linguagem do dia-a-dia e se instala como vocabulário corrente e automático.

É social e politicamente incorrecto não incluir algures em conversas, textos ou debates um ou mais chavões como, por exemplo, redes de nova geração, banda larga, 3G, tecnologias da informação, Web2.0, realidade virtual, assinaturas digitais, comércio electrónico, desmaterialização, entre muitos outros, ainda que pouco se saiba quanto ao seu verdadeiro significado. Seria relativamente fácil elaborar uma lista com todos os nomes da moda – palavras chave, termos mágicos, buzzwords – que transformam qualquer documento num texto com aparente conteúdo e actualidade.

Muitas vezes dá a sensação de que quem utiliza esses termos acabou de ler um daqueles guias práticos que, de forma sucinta, ligeira e, por vezes, hilariante, prometem ao leitor sabedoria instantânea sobre determinado tema. Se fosse esse o caso seria menos mau mas, infelizmente, a maior parte das vezes nem isso acontece. Usam-se os termos e expressões porque toda a gente os usa.

É um pouco como as cerejas, que têm que ser de Resende, os Melões, que têm que ser de Almeirim, a pêra rocha, que tem que ser do Oeste, e assim sucessivamente, para que se possam vender em qualquer banca montada à beira da estrada, ainda que nada ateste a sua proveniência. O mesmo se passa com as redes, que têm que ser de nova geração, com a banda, que tem que ser larga, com a Web, que tem que ser 2.0, com a realidade, que tem que ser virtual, com as assinaturas, que têm que ser digitais e com a inteligência, que tem que ser artificial. Sem isso, qualquer solução informática é liminarmente rejeitada pelos ‘grandes especialistas’.

Bem vistas as coisas, este fenómeno é uma tendência natural que, em muitos casos, não traz grande mal ao Mundo. Há, no entanto, que ter algum cuidado quando a superficialidade das buzzwords é utilizada para definir estratégias, para lançar programas, para avaliar iniciativas ou para decidir sobre a execução de projectos. Nesses casos as consequências podem ser muito negativas, já que facilmente se embarca na construção de infraestruturas informáticas largamente sobredimensionadas, sistemas de informação desligados de necessidades reais e concretas, ou aplicações caras e mal concebidas. Desses temos muitos casos, cuja única utilidade prática fica reduzida ao dispendioso mas sonante marketing de todos os nomes.