terça-feira, 18 de outubro de 2011

Cidades inteligentes










Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 17 de Outubro de 2011


Preso no trânsito que, por causa das obras, se encontrava completamente parado, a minha mente divagou para o tema das “cidades inteligentes”.

Talvez por causa da crise não se fale agora tanto em “cidades inteligentes” como se tinha vindo a falar ao longo últimos anos. O boom tecnológico das duas décadas mais recentes estimulou a imaginação dos mais visionários, que anteviam cidades nas quais tudo, sem exceção, se apoiaria na forte utilização das tecnologias da informação e comunicação (TIC), desde as redes de energia, gás e água, até ao ambiente, passando por cuidados de saúde, apoio a idosos, educação, segurança, serviços de emergência, transportes, urbanismo, habitação e entretenimento.

Era – e ainda é – uma visão otimista, irrealista e, portanto, inviável, já que exigiria uma utilização massiva das TIC e, sobretudo, a mobilização de importantes meios financeiros e humanos para projeto, operação e manutenção do grande número de sistemas que confeririam a tais cidades a tão desejada inteligência.

Não significa isto que as necessidades por detrás do conceito de cidade inteligente tenham desaparecido. As infraestruturas das cidades estão, cada vez mais, sob stress, dado o crescimento da população citadina, o incremento das necessidades de recursos, a maior mobilidade de pessoas e bens e, ainda, as maiores exigências de qualidade de vida dos cidadãos. De fato, quer estes aspetos quer a própria existência de uma crise tornam mais premente do que nunca a redução de custos, a maximização da eficiência dos sistemas e a eficaz gestão de infraestruturas, ou seja, tornam mais premente a concretização do conceito de cidade inteligente.

A questão é que a concretização deste conceito tem, agora, que se pautar por critérios realistas, e não por critérios de mediatização que, tantas vezes, levam ao esbanjamento de recursos para a construção de serviços tão ‘engraçados’ quanto inúteis.

As cidades são conjuntos de sistemas complexos, coordenados por várias entidades, mas que não são, de maneira nenhuma, independentes. Qualquer cidade na qual o planeamento, a gestão e a operação de sistemas sejam feitos de forma independente pelas diversas entidades em causa está condenada a custos acrescidos, ineficiência e prejuízo para os cidadãos.

Há, no entanto, que avaliar claramente as necessidades, identificar as oportunidades de melhoria com base nas TIC, fixar objetivos claros, estabelecer prioridades de desenvolvimento e definir métricas de avaliação de resultados. Há, também, que ter em mente que o principal fator de sucesso de qualquer projeto de cidade inteligente será sempre a inteligência (essa sim) dos responsáveis pelos vários sectores envolvidos. Já os principais juízes desse sucesso serão, necessariamente, os cidadãos, muitos dos quais eram agora meus colegas de engarrafamento.

De repente o meu pensamento foi interrompido. Após um longo período de espera, o trânsito começava novamente a fluir.

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