terça-feira, 6 de setembro de 2011

O quadro interativo


Artigo de opinião a publicar no diário ‘As Beiras’
em 5 de Setembro de 2011


Numa altura em que arranca um novo ano letivo e em que, mais uma vez, se perfilam algumas mudanças no nosso sistema educativo, importa analisar o papel que as tecnologias da informação e comunicação (TIC) podem e devem desempenhar neste sistema que, há mais de um século, teima em ser um dos calcanhares de Aquiles da nossa sociedade.

Nos últimos anos a utilização das TIC no ensino foi claramente sobrevalorizada. Gerou-se, de algum modo, a crença de que as TIC nas salas de aula – e fora delas – seriam a chave para o crónico problema da educação em Portugal, a panaceia que resolveria de uma só vez, por artes mágicas, o flagelo do mau aproveitamento dos alunos e a maldição da falta de ferramentas de apoio à atividade dos professores.

Efetivamente, já dizia Arthur C. Clarke – escritor e inventor britânico recentemente falecido, a quem devemos o conceito de satélite de telecomunicações – que qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia. Parece, no entanto, que no caso da educação em Portugal se confiou demasiado numa anunciada magia, esquecendo-se que a tecnologia que lhe daria origem não tinha, de fato, capacidade para a produzir.

No grande espetáculo das TIC no ensino duas estrelas brilharam: o computador portátil e o quadro interativo. O primeiro seria um instrumento de acesso a informação, potenciador do conhecimento e estimulante do raciocínio. O segundo resolveria o difícil problema da interação professor-aluno, tornando-a mais cativante e mais viva. Ambos falharam os objectivos, quer por razões intrínsecas quer extrínsecas.

Curiosamente, na maioria dos casos o computador rapidamente se transformou numa ferramenta para minimizar a necessidade de procurar, analisar, questionar, raciocinar e aprender. Quanto ao quadro interativo passou a facilitar fortemente as aulas pré-formatadas, tantas vezes com recurso a diapositivos, tendo um efeito contrário ao pretendido: maior passividade e alheamento dos alunos.

Note-se que o próprio nome – quadro interativo – é enganador no contexto da educação. Com efeito, estes equipamentos são interativos, mas a interação ocorre entre o utilizador – neste caso, o professor – e o computador. Centra-se, assim, a interatividade na relação entre o docente e a máquina que este utiliza, quando, na realidade, o que se pretende no ensino é a interatividade entre docente e alunos, para a qual os quadros interativos pouco ou nada contribuem.

A interação docente-aluno é absolutamente necessária e determinante no ensino, especialmente no básico e no secundário. As tecnologias devem ser utilizadas se e quando potenciarem essa interação, e ser preteridas sempre que prejudicarem a educação e formação, por muito atrativas e interessantes que pareçam. Todos os bons docentes o sabem, assim como sabem que os verdadeiros e únicos quadros interativos de que precisam – aqueles nos quais realmente querem “escrever” com tinta indelével - são os seus alunos.

Sem comentários:

Enviar um comentário