terça-feira, 19 de abril de 2011

Ouro, prata e bronze


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 18 de Abril de 2011, com o título "Prata da casa"


Na última década temos podido observar uma significativa alteração do panorama tecnológico em Portugal, com especial ênfase na área das tecnologias da informação e comunicação (TIC). Inúmeras empresas de base tecnológica têm surgido, o que, para além de gerar emprego numa área onde há relativamente pouco tempo ele era quase inexistente, evita que se importem serviços e tecnologia e, para além disso, leva a que Portugal exporte para tudo o Mundo.

Também é interessante verificar que muitas dessas empresas são empresas de spin-off, com a sua génese no meio universitário, sendo isto um claro indicador de que não são só as empresas que estão a mudar mas, também, a própria Universidade, cada vez mais virada para as reais necessidades da nossa sociedade e cada vez mais atuante.

Apesar disso, a área das TIC é, ainda, uma das áreas tecnológicas onde mais se importa bens e serviços. Estado e empresas recorrem intensivamente a soluções de TIC desenvolvidas externamente, com elevados custos de aquisição e licenciamento. Se em certos casos tal é inevitável, em muitos outros o desenvolvimento e a integração de soluções nacionais seria perfeitamente possível.

O caso mais comum é o da baixa utilização de soluções de código aberto. Este tipo de soluções não é livre de custos, mas é claro que, em situação de crise e de desequilíbrio de balança comercial, é preferível aplicar o dinheiro que seria gasto em dispendiosos licenciamentos de software investindo nas pessoas necessárias para operacionalizar as soluções de código aberto. Assim, gastar-se-iam menos divisas, criar-se-ia emprego e incrementar-se-ia a autonomia tecnológica. Não seríamos o único país a fazê-lo, muito pelo contrário.

Não parece, infelizmente, ser essa a opção mais frequente. Porque será que no meio de tanta medida de modernização administrativa – de Estado e de empresas – não se descortina uma prática de incentivo à utilização de código aberto, ao desenvolvimento e implantação de soluções nacionais, à criação de emprego tecnológico e ao fomento da Engenharia Informática no país? Porque será que se privilegia a aparência e se ignoram as condições para o suporte de medidas eficazes? Porque se desenvolve para o imediato e não se constrói para o futuro?

Costuma dizer-se que as grandes crises geram oportunidades. A avaliar pelo tamanho da crise que atravessamos, certamente existirão grandes oportunidades na área informática. Precisamos, no entanto, que nenhuma oportunidade para integrar componentes e desenvolvimentos nacionais seja perdida. Precisamos, mais do que nunca, de dar à Engenharia Informática nacional a oportunidade de mostrar que pode contribuir de forma relevante para ultrapassar a crise que a todos afecta. Temos no país muito bons técnicos e especialistas na área informática, bem como muito bons cursos de nível médio e superior. Resta-nos, afinal, tirar partido não só da prata da casa, mas também do ouro e do bronze.

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