terça-feira, 30 de novembro de 2010

Os blindados da informática


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 29 de Novembro de 2010


Imaginemos uma arma tão poderosa que conseguisse tornar inoperacionais praticamente todas as infra-estruturas críticas da sociedade em que vivemos: as redes de produção e distribuição de energia eléctrica, as redes de telecomunicações, as redes de transporte e logística, os sistemas de controlo de tráfego marítimo, terrestre e aéreo, as mais variadas linhas de produção industrial, os sistemas de suporte à vida nas unidades de saúde, as redes e sistemas bancários, os sistemas de informação das forças de segurança, as administrações dos diversos Estados, os meios de comunicação social.

É, felizmente, um cenário de ficção. No entanto, é claro para todos que se tal arma existisse e fosse accionada quase todos os países do Mundo ficariam bloqueados, a economia mundial entraria em colapso, milhões de pessoas perderiam a vida por acidentes, falta de cuidados médicos e falta de medicamentos, as guerras pelo controlo dos poucos recursos existentes eclodiriam um pouco por toda a parte, o caos instalar-se-ia nas cidades, a Civilização – tal como a conhecemos – desapareceria para sempre.

Se é certo que essa arma não existe, o mesmo não pode ser dito das tecnologias na qual ela se poderá basear: as tecnologias da informação e comunicação (TIC). Com efeito, actualmente todas as infra-estruturas – críticas ou não – recorrem às TIC e, de facto, não poderiam existir sem elas. Nenhum sistema com um mínimo de complexidade pode existir sem funcionalidade de processamento e/ou comunicação de informação. Nunca como hoje a sociedade dependeu tanto das TIC, sendo certo que essa dependência se continuará a acentuar por tempo indeterminado.

É por estes motivos que a maior ameaça à segurança global não vem de exércitos ou de potenciais conflitos armados, mas sim de ameaças aos sistemas de informação e comunicação. O novo terrorismo será – ou é – um terrorismo informático e tecnológico. Não no sentido da pequena pirataria, ou dos vírus ‘caseiros’ que grassam em incontáveis computadores pessoais ou, ainda, do acesso indevido a mensagens electrónicas deste ou daquele dignitário, mas no sentido do ataque a infra-estruturas críticas, sobre as quais assentam todos os aspectos fundamentais da sociedade contemporânea.

É, assim, fundamental que o Mundo se prepare para esta nova ameaça. Essa preparação está muito avançada nos países mais desenvolvidos tecnologicamente. Noutros, a segurança informática ainda é encarada como uma curiosidade de filmes de Hollywood ou, na melhor das hipóteses, como algo que se resolve com abordagens que, para os especialistas em segurança, não podem deixar de ser consideradas ‘naive’.

Nós por cá podemos registar soluções mistas, algumas com boa segurança e outras nem tanto. São bastantes os casos de redes e serviços com falhas de segurança, quer em organismos públicos quer privados. Segue-se, em larga medida, o ditado de que depois da casa arrombada trancas à porta. Será que vamos ter mais um caso no qual os ‘blindados’ chegam tarde demais?