Graças à utilização generalizada das tecnologias da informação e comunicação (TIC), vivemos num mundo inundado de informação, no qual nem sempre é fácil distinguir o que é irrelevante do que não o é, o que é falso do que é verdadeiro, o que é abusivo do que é adequado. Quando a informação é excessiva transforma-se, de facto, num mero conjunto de dados de significado e utilidade duvidosos. Por isso, um dos maiores desafios dos tempos de hoje é o de sobreviver a tanta informação, resistir à ânsia de assimilar tudo o que nos chega, separar o trigo do joio.
Neste contexto,
seria de esperar que os órgãos de comunicação social tivessem aproveitado a
oportunidade para se diferenciar, informando com qualidade, marcando claramente
a diferença entre ruído e jornalismo mas, infelizmente, parece que a maioria
decidiu nivelar por baixo. Assistimos, assim, a noticiários nos quais os
principais critérios editoriais são os do imediatismo, da "notícia"
bombástica, do usar e deitar fora. A imprensa escrita segue-lhes o caminho,
exasperante na sua superficialidade, "análise" fácil e inexistência
de investigação. Há que dar a notícia a todo o custo mas de forma rápida,
acompanhando o ritmo frenético de chegada de dados.
Quando se
pretende dar a ilusão de profundidade e jornalismo de rigor explora-se o lado
sensacionalista e as emoções fortes, a entrevista à vítima direta da tragédia,
a repetição exaustiva de notícias iguais ou semelhantes no mesmo ou em
diferentes contextos, numa tentativa de que o espetador ou leitor confunda
drama em quantidade com qualidade noticiosa. Pensa-se, então, que se atingiu o
auge da profissão, mas a realidade não podia ser mais distinta: bateu-se no
fundo.
O resultado imediato do acesso generalizado à informação foi, ao que
parece, o 'fast food' jornalístico, que enche o 'estômago' e anquilosa as
'artérias' do pensamento e análise crítica. Não se usaram os meios
proporcionados pelas TIC para fazer melhor, mas sim para fazer mais e pior.
Felizmente, nem
tudo é mau. Existem já vários órgãos de comunicação que perceberam o erro e
exploram agora o chamado 'jornalismo lento'. Talvez agora possamos ver que
acesso generalizado a informação e jornalismo de qualidade não são incompatíveis,
antes pelo contrário. Há, apenas, que
utilizar o poder das TIC para trabalhar melhor e fazer bem aquilo que nunca
deveria ter sido feito mal.
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